27 novembro 2006

EM BUSCA DA VERDADE PERDIDA ( OU NUNCA ENCONTRADA )



A construção da verdade é um assunto muito controverso.

Hoje em dia vemos inúmeras pessoas se referindo ao tema, de forma apaixonada, como se pudessem “resgatar” algo que historicamente jamais existiu, a “VERDADE VERDADEIRA”.
Mas que pleonasmo é esse?
Existiria porventura uma “VERDADE MENTIROSA” que se oporia a ela?

Ocorre que desde os primórdios da convivência humana em sociedade estudiosos e pesquisadores tentam elaborar “a receita do bolo”, mas até hoje não se conseguiu "uniformizar" uma fórmula que produza uma VERDADE única ao final de um processo.

Isso significa dizer que os processos de construção da verdade tiveram uma evolução histórica e foram sendo adequados pelos governos, de acordo com cada cultura, a partir da avocação pelo Estado do monopólio da justiça e da força.

Assim sendo, podemos dispor três formas de produção da verdade:

- a revelação divina

- o inquérito

- o exame

Na primeira, encontrada na sociedade grega arcaica, a pressuposição era a existência apenas de dois personagens, a verdade seria obtida através do sistema da prova legal, consistindo no enfrentamento entre acusador e acusado, numa luta ou num jogo, onde o soberano apenas estabeleceria as regras da disputa.

Nesse sistema os fatos são irrelevantes, relevante é o método da disputa para a produção da verdade e ao final o vencedor, por "obra divina", era revelado o detentor da verdade.

Essa forma também se verifica na Alta Idade Média e no Antigo Direito Germânico.

Na produção da verdade pelo sistema da prova legal não havia ação pública, ou seja, ninguém, além dos envolvidos, poderia deflagrar o processo; quem não já leu algum livro ou já viu algum filme sobre os famosos duelos ou contendas?

Em segundo lugar, uma vez iniciada a ação penal, pela declaração de um indivíduo que julgasse haver sido lesado por outro, a ação tinha prosseguimento numa espécie de guerra particular entre os dois e doravante o direito regularia apenas as normas da disputa, uma forma regulamentada de promover a guerra entre as partes.

Finalmente havia a possibilidade do acordo, da transação, mesmo após o início da disputa. Para tanto os dois oponentes, acordados entre si, elegeriam um árbitro que estabeleceria um valor pecuniário como resgate - não que este viesse a resgatar o dano ou o crime praticado, mas um valor atribuído à vingança, que se tornara o objeto da disputa.

O sistema de produção da verdade por inquérito, representado na obra de Sófocles – “Édipo-Rei”, o assassinato do Rei Laio é investigado a partir de uma nova figura – o pastor testemunha – que através do seu depoimento traz nova dimensão à produção da verdade.

Durante a Inquisição Eclesiástica a Igreja também se valeu do sistema do inquérito, na Idade Média, para a produção da verdade – inquisitio generalis e inquisitio especialis.

O Santo Ofício institui a confissão como um tipo de “requisito para salvação da alma”, uma vez que o corpo pagaria de qualquer jeito.

O sistema inquisitorial eclesiástico não se aplicaria às faltas comuns entre os indivíduos, mas tornar-se-ia mais abrangente socialmente, alcançando todas as camadas sociais, principalmente as mais abastadas, por atingir os rotulados como hereges.

Materializava-se através da visitatio - o bispo percorria a diocese e ao chegar a cada vilarejo promovia uma Inquisitio generalis – que visava descobrir o que havia acontecido no lapso temporal entre a visita anterior e aquela, inteirando-se de todo o ocorrido; caso algum fato merecesse atenção era promovida uma Inquisitio specialis – que visava descobrir o autor e a natureza do ato.

A tortura física é a materialização do método de obtenção da confissão, e esta como expiação da alma, uma vez que o corpo físico já fora previamente condenado e a confissão seria buscada até mesmo depois de prolatada a sentença.

O sistema de produção da verdade por exame tem origem no século XIX na Inglaterra com o surgimento do trial by jury , um julgamento pelos pares onde quem viu não pode julgar e tudo tem que ser construído perante os juízes: EVIDENCE – FACT – PROOF.

A construção da verdade se baseia na entrevista e o sistema pressupõe a disciplina e não a repressão. Na entrevista a verdade é construída, o entrevistador não a conhece e busca construir uma verdade em "cumplicidade" com o entrevistado.

Um juiz delibera sobre as regras de exclusão – exclusionary rules – ou seja, aquilo que poderá ou não ser negociado entre as partes e o sistema tende a produzir uma normalização na sociedade.

Sendo a busca da VERDADE uma obsessão tão antiga da Humanidade, como poderemos descobri-la sem a subjetividade das evidências e do convencimento pessoal de cada um ?

Não adianta querer reinventar a roda.


“A ERA DA PROCRASTINAÇÃO, DAS MEIAS MEDIDAS, DOS EXPEDIENTES QUE ACALMAM E CONFUNDEM, A ERA DOS ADIAMENTOS ESTÁ CHEGANDO AO FIM. NO SEU LUGAR, ESTAMOS ENTRANDO NA ERA DAS CONSEQUÊNCIAS”.

Winston Churchill, 1936

25 novembro 2006

O DIREITO CONSUETUDINÁRIO



Diante de mais um período de obscurantismo na História do Brasil, temos que amargar a indignação, mas não a surpresa, com os fatos que levaram o país ao atraso e ao subdesenvolvimento.


Em um país onde o jeitinho brasileiro é sufragado como orgulho nacional, o que poderíamos esperar?

O que é o sanguessuga, para quem paga pra furar a fila no INSS?

O que é o dossiê, para quem faz gato da tv a cabo do vizinho, da energia do poste, “fura” o cano de água ou desvia o acesso antes do hidrômetro?

O que é mensalão, para quem paga propina pro policial pra não levar multa?

Qual o problema do presidente legalizar o aborto, se tem tanto brasileiro assassino solto por aí?

Qual o problema do presidente vender a Amazônia, se muitas mulheres e crianças vendem o próprio corpo pra se sustentar?

Qual o problema de explorar os filhos, no trabalho escravo, se mesmo assim as famílias ganham Bolsa-Família?

Qual o problema de não haver saneamento básico para todos estes mesmos que jogam lixo na rua e nos córregos?

Qual o problema de superfaturar obras, se aqueles que o elegeram sonham em chegar o dia de fazerem o mesmo?

Qual o problema de haver tantas crianças fora da escola se para ser presidente basta ter a 4a série?

Qual o problema de os governantes tentarem tirar vantagem em tudo se estes cidadãos sempre tentam o mesmo?

E é por essas coisas e outras mais, que não causa espécie alguma existir este tipo de brasileiro, tão tolerante com seus atuais governantes.


Tão somente o costume virou lei. É a consagração do Direito Consuetudinário !

O que parece surpreendente são aqueles que disseram não a esse tipo de Brasil e de brasileiro.
Aqueles que, mesmo não tendo certeza que o outro presidente seria o melhor do Brasil, votaram pela dignidade, votaram pela moral, votaram pela ética, votaram porque não aceitam mais esse tal de “jeitinho brasileiro”.

E esses quase 38 milhões (e seus familiares não votantes) são os que saíram vencedores do pleito!

Porque não se venderam (promessas ocas, para a grande maioria), não se deixaram corromper pelas falácias palanquistas e disseram não a todas as coisas erradas.

Ao contrário, estes disseram sim a moral e dignidade, estes crêem que existe um "outro Brasil", embora cônscios de sua efêmera ideologia.

Por que estes brasileiros existem, é que o Brasil ainda será uma nação!

23 novembro 2006

OS "NOVOS IRMÃOS WRIGHT"



Há exatos 40 anos, o cientista cearense Expedito Parente criou o biodiesel, um óleo combustível derivado de plantas oleaginosas capaz de substituir, com vantagens, o diesel derivado de petróleo usado pelas indústrias pesadas, caminhões, usinas geradoras e outros equipamentos.

Surgia a descoberta que poderia revolucionar o mundo no que tange à produção de combustíveis de fonte renováveis.
A coisa era tão séria que o então ministro da Aeronáutica, Délio Jardim de Matos, entusiasmado, mandou que as pesquisas de Expedito continuassem no Centro Tecnológico da Aeronáutica ( CTA ), em São José dos Campos.

O período era do Governo Militar e nada foi revelado sobre o trabalho, considerado assunto reservado e de segurança nacional. Logo o biodiesel provou ser o combustível do futuro, nascido do país que tem melhores condições em todo o mundo para produzí-lo: a nossa Pindorama.

Entre 1980 e 1984, foram produzidos mais de 300 mil litros do óleo, utilizados em testes.
Paralelamente, Expedito criou o bioquerosene, também originário de oleaginosas, substituto do querosene de aviação. E no dia 24 de outubro de 1984, o ´dia do aviador´, um ´Bandeirante´ da FAB decolou de São José dos Campos usando o bioquerosene como combustível.
O teste foi um sucesso.

Em 1980, em Fortaleza, o vice-presidente da República, Aureliano Chaves, e o governador Virgílio Távora, este um dos grandes incentivadores das pesquisas do professor cearense, inauguraram ali, a margem da BR-116, a primeira usina produtora de biodiesel, montada pelo Expedito e seu fiel auxiliar Alfredo Rafael Campi, o Lelo.

Em 2001, Expedito Parente criou a TECBIO, uma empresa que fabrica equipamentos para a produção de biodiesel. De lá para cá, centenas dessas unidades foram montadas no País, produzindo combustível para prefeituras, indústrias, universidades etc. Contar essa pequena história do biodiesel é fazer justiça ao seu verdadeiro criador, que não teve a sorte de ser um professor de Harvard. Se fosse, talvez, já tivesse até abocanhado um prêmio Nobel.

Mas o assunto vem à tona apenas para alertar os incautos para essa propaganda enganosa do governo do PT, que ora gasta o dinheiro do contribuinte para mentir aos brasileiros, dizendo que o biodiesel é uma criação do governo Lula, assim como tudo de bom que se fez nesse País desde 1500.


O que o presidente chama de ´biudiziú´ nada mais é do que o biodiesel inventado por Expedito Parente.

Logo quando se comemoram os 100 anos do vôo de Santos Dumont no 14 Bis, Lula e sua companheirada aparecem como os “novos irmãos Wright” do biodiesel .




(Oliver Wright)

19 novembro 2006

COMO EVOLUÍRAM OS "MOVIMENTOS SOCIAIS"



As lutas sociais pela inclusão características das décadas de 20 e 30, assim como o processo de sindicalização dos anos 50 e 60, há muito deixaram de representar o lócus mais visível do processo de exclusão social no Brasil.

Até então os movimentos sociais eram oriundos de uma agregação de indivíduos que buscavam sua inclusão, seja política, seja econômica, utilizando-se coletivamente do “poder das massas” para reivindicar. Eram movimentos “quantitativos” onde o poder de barganha era tanto maior quanto o número absoluto de participantes.

Evoluem também, de forma pontual, para movimentos “qualitativos”, onde o foco passa a ser o setor produtivo e não o número de participantes; nesse mister o setor energético sempre foi de vital importância para a economia e a sociedade, sofrendo fortes influências dos “ativistas profissionais”, aqueles cuja função, alheia à causa, é a de influenciar e controlar determinado grupo social, reféns do capital e corrompidos por este, negaceiam a sorrelfa perante seus pares, nos palanques e de megafone em punho, daquilo que efetivamente trataram nos gabinetes refrigerados.


A partir da década de 80 ingressamos na era da “fossilização da estrutura social”, com a perda crescente do movimento ascensional da mobilidade social. Entramos no modelo econômico de aguda dependência global, com pagamento de altos juros pela dívida externa, internacionalização de nossas empresas e uma busca sôfrega por investimentos externos, pois deixou de existir a poupança interna e a capacidade de investimento por parte do setor público.


A fossilização da estrutura social é evidente quando se verifica, após algumas décadas, que “o rico fica sempre mais rico, e o pobre cada vez mais pobre”, independentemente do que se faça, ou que se poupe, jamais se modificam as posições na pirâmide, mesmo num governo que se auto-proclama como "dos pobres".


Este processo avançou muito na chamada “Nova República”, adentramos na esteira acelerada da inovação tecnológica e da competitividade empresarial, gerando o desemprego estrutural e tecnológico.

Aderimos à hegemonia neoliberal – sem jamais termos sido sequer liberais – encolhendo o Estado através das privatizações de empresas públicas, reduzindo os investimentos nas políticas sociais de longo prazo e incentivando a cultura do pobrismo, da dependência social e do "nivelamento por baixo" dos parâmetros sociais.


Paradoxalmente foi inaugurada a “era da estagnação econômica”, sem investimentos em infra estrutura que já duram uma década, o país fica "ancorado" ao atraso e patina no subdesenvolvimento; abandonam-se as históricas taxas de crescimento de 7,5% ao ano para habitarmos os medíocres 2% e "competirmos" com o Haiti.

Tal como o Coelho de Alice, o país corre apressadamente para não sair do lugar; ou ainda, moderniza-se para se tornar mais injusto.

15 novembro 2006

A CONFISSÃO !



"Meus queridos companheiros e companheiras dirigentes do Foro de São Paulo que compõem a mesa
Meus queridos companheiros e companheiras que nos estimulam com esta visita ao 12º Encontro do Foro de São Paulo


Não preciso ler a nominata toda, porque os nomes já foram citados pelo menos três vezes. E se eu citar mais uma vez, daqui a pouco alguém vai querer se candidatar a vereador ou a prefeito, aqui, em São Paulo.
Primeiro, uma novidade: sabem por que a Nani está sentada lá atrás? Porque há poucos dias o Brasil ganhou da Argentina e ela não quer ficar aqui perto da mesa.(quanta gentileza, hein?)
Meus companheiros, minhas companheiras,
Como sempre, eu tenho um discurso por escrito, como manda o bom protocolo da Presidência da República, mas, como sempre também, eu tenho uma vontade maluca de fazer o meu improviso.
E eu queria começar com uma visão que eu tenho do Foro de São Paulo. Eu que, junto com alguns companheiros e companheiras aqui, fundei esta instância de participação democrática da esquerda da América Latina, precisei chegar à Presidência da República para descobrir o quanto foi importante termos criado o Foro de São Paulo.
E digo isso porque, nesses 30 meses de governo, em função da existência do Foro de São Paulo, o companheiro Marco Aurélio (ahã...)tem exercido uma função extraordinária nesse trabalho de consolidação daquilo que começamos em 1990, quando éramos poucos, desacreditados e falávamos muito.
Foi assim que nós, em janeiro de 2003, propusemos ao nosso companheiro, presidente Chávez, a criação do Grupo de Amigos (quadrilha) para encontrar uma solução tranqüila(hein???) que, graças a Deus, aconteceu na Venezuela.


E só foi possível graças a uma ação política de companheiros. Não era uma ação política de um Estado com outro Estado, ou de um presidente com outro presidente. Quem está lembrado, o Chávez participou de um dos foros que fizemos em Havana. E graças a essa relação foi possível construirmos, com muitas divergências políticas, a consolidação do que aconteceu na Venezuela, com o referendo que consagrou o Chávez como presidente da Venezuela.
Foi assim que nós pudemos atuar junto a outros países com os nossos companheiros do movimento social, dos partidos daqueles países, do movimento sindical, sempre utilizando a relação construída no Foro de São Paulo para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política. Foi assim que surgiu a nossa convicção de que era preciso fazer com que a integração da América Latina (ahnn...) deixasse de ser um discurso feito por todos aqueles que, em algum momento, se candidataram a alguma coisa, para se tornar uma política concreta e real de ação dos governantes. Foi assim que nós assistimos a evolução política no nosso continente.
Certamente não é tudo que as pessoas desejam, se olharmos o ideal do futuro que queremos construir, mas foi muito, se nós olharmos o que éramos poucos anos atrás no nosso continente. Era um continente marcado por golpes militares, era um continente marcado por ausência de democracia. E hoje nós somos um continente em que a esquerda deu, definitivamente, um passo extraordinário para apostar que é plenamente possível, pela via democrática, chegar ao poder e exercer esse poder. Esse poder que é construído no dia-a-dia, esse poder que é construído a cada momento com muita dificuldade. Mas, quando exerce o cargo de presidente da República de um país, ele não será lembrado apenas pela quantidade de obras que conseguiu realizar ou apenas pela quantidade de políticas sociais que ele fez.
Eu tenho feito questão de afirmar, em quase todos os pronunciamentos, que a coisa mais importante que um governante pode fazer é estabelecer um novo padrão de relação entre o Estado e a sociedade, entre o governo e as entidades da sociedade civil organizada(MST, CUT, UNE, ONGs). E consolidar, de tal forma, que isso possa ser duradouro, independente de quem seja o governo do país.
E é por isso que eu, talvez mais do que muitos, valorize o Foro de São Paulo, porque tinha noção do que éramos antes, tinha noção do que foi a nossa primeira reunião e tenho noção do avanço que nós tivemos no nosso continente, sobretudo na nossa querida América do Sul.
Todas as vezes que um de nós quiser fazer críticas justas, e com todo direito, nós temos que olhar o que éramos há cinco anos atrás na América Latina, dez anos atrás, para a gente perceber a evolução que aconteceu em quase todos os países da nossa América.
E eu quero dizer para vocês que muito mais feliz eu fico quando tomo a informação, pelo Marco Aurélio ou pela imprensa, de que um companheiro do Foro de São Paulo foi eleito presidente da Assembléia, foi eleito prefeito de uma cidade, foi eleito deputado federal, senador, porque significa a aposta decisiva na consolidação da democracia no nosso país.
Se não fosse assim, o que teria acontecido no Equador com a saída do Lucio Gutiérrez? Embora o Presidente tenha saído, a verdade é que o processo democrático já está mais consolidado do que há dez anos atrás.
O que seria da Bolívia com a saída do Carlos Mesa, recentemente, se não houvesse uma consciência democrática mais forte no nosso continente entre todas as forças que compõem aquele país?
A vitória de Tabaré, no Uruguai: quantos anos de espera, quantas derrotas, tanto quanto as minhas. Ou seja, a paciência de esperar, de construir, de somar, de estabelecer políticas que pudessem consolidar, definitivamente, não apenas a vitória, mas tirar o medo de muita gente do povo, que se assustava quando imaginava que a esquerda pudesse ganhar uma eleição.
O que significa a passagem da Argentina? Num momento em que ninguém queria ser presidente, o Duhalde assume e consegue, em dois anos, não só começar a recuperar a economia da Argentina, como consegue eleger um sucessor com a personalidade do presidente Kirchner.
Os chilenos, depois de tantas e tantas amarguras, num período que muita gente não quer nem se lembrar, estão agora prestes a, pela quarta vez consecutiva, reeleger um presidente, eu espero que uma presidente, ou seja, uma mulher presidente daquele país. Isso não é pouco, isso é muito.
E o que nós precisamos é trabalhar para consolidar, para que a gente não permita que haja qualquer retrocesso nessas conquistas, que são que nem uma escada: a gente vai conquistando degrau por degrau. E, às vezes, até paramos um pouco num degrau para dar um passo um pouco maior, porque se tentarmos dar um passo muito grande poderemos cair, nos machucar e a caminhada retrocederá.
O Foro de São Paulo, na verdade, nos ensinou a agir como companheiros, mesmo na diversidade. A coordenação do Foro de São Paulo, que envolvia parte das pessoas que estão aqui, não pensava do mesmo jeito, não acreditava nas mesmas profecias, mas acreditava que o Foro de São Paulo poderia ser um caminho. E foram inúmeras daquelas reuniões que ninguém quer participar, às vezes, pegar um vôo, andar quatro, cinco horas de avião e parando três, quatro vezes para chegar num lugar e encontrar meia dúzia de companheiros para se reunir. E esses companheiros que tiveram a coragem de assumir essa tarefa, eu acho que hoje podem estar orgulhosos, porque valeu a pena a gente criar o Foro de São Paulo.
No começo, eu me lembro que alguns partidos nem queriam participar, porque acharam que nós éramos um bando de malucos. O que não faltava eram adjetivos. E quanto mais perto as pessoas iam chegando do poder, mais distantes iam ficando do Foro de São Paulo.
A minha vinda aqui, hoje, é para reafirmar uma coisa: a gente não precisa esquecer os nossos companheiros quando a gente ganha uma eleição para presidente da República. A gente precisa continuar tendo as nossas referências para que a gente possa fazer cada vez mais e cada vez melhor. E é isso que eu quero fazer como exemplo, ao sair de Brasília e vir aqui.
Vocês sabem que eu não posso brincar o tanto que eu já brinquei, as coisas que fazia nos outros, porque quando nós começamos o Foro de São Paulo, a gente ficava implorando para ter um jornalista e não tinha nenhum. E hoje tem muitos e eu já não posso fazer as brincadeiras, eu não posso fazer o que fazia antes e nem dizer tudo o que eu dizia antes(hummm... interessante).
Mas uma coisa eu quero que vocês saibam: valeu a pena acreditar em nós mesmos e saber que nós vamos levar muitos anos, muitos... Nós não conseguiremos fazer as transformações que acreditamos e por que brigamos tantos anos em pouco tempo. É um processo de consolidação.
Eu estava vendo as imagens do primeiro encontro e fico triste porque a velhice é implacável. A velhice parece que só não mexe com a Clara Charf, que é do mesmo jeito desde que começou o primeiro Foro, mas todos nós, da mesa, envelhecemos muito. Espero que tenha valido a pena envelhecer, Marco Aurélio. Eu me lembro que eu não tinha um fio de cabelo branco, um fio de barba branca e hoje estou aqui, todos estão, de barba branca.
Meus companheiros,
Eu estou feliz porque vocês acreditaram. Reuniões que não eram fáceis, difíceis, muitas vezes as divergências eram maiores que as concordâncias e sempre tinha a turma que fazia o meio de campo para contemporizar, procurar uma palavra adequada para que não houvesse nada que pudesse criar embaraço para o Foro de São Paulo.
Eu quero dizer uma coisa para vocês: não está longe o dia em que o Foro de São Paulo vai poder se reunir e ter, aqui, um grande número de presidentes da República que participaram do Foro de São Paulo.
As coisas caminham para isso. Nós aprendemos que a organização da sociedade é um instrumento excepcional e nós aprendemos que o processo democrático pode garantir que a gente concretize esses sonhos nossos.
No Brasil, eu espero que o PT tenha preparado para vocês os informes que vocês devem levar para os seus países (cartilhas), e é importante que o Foro de São Paulo consiga que os outros países apresentem também as coisas que estão acontecendo em cada país, para que a gente vá consolidando os avanços das políticas sociais que tanto nosso povo precisa.
Esses dias eu estava assinando, ou melhor, sancionando o Fundo de Habitação Popular, lá em Brasília, e não tinha me dado conta de que, quando foi falar o líder do povo, que luta por habitação no Brasil, ele não agradeceu a lei que vai criar o Fundo, ele não fez menção. A coisa mais importante para ele não era o fato de termos criado uma lei que criava um fundo de moradia; a coisa que mais o marcou no discurso é que era a segunda vez que ele tinha conseguido entrar no Palácio de governo do Brasil. E aí a minha memória voltou a 1994, o Marco Aurélio estava comigo, quando eu fui visitar o Mandela. Na porta do Palácio tinha um monte de pessoas, mulheres e homens, andando felizes. E eu perguntei para o Mandela: o que essa gente faz aqui, desfilando? Ele falou: “Lula, essa gente era proibida de passar na frente do palácio, portanto, hoje eles vêm aqui. Só o fato de eles entrarem no recinto do Palácio, tem muitos que choram, tem muitos que querem colocar a mão na parede. E se eu estiver perto para tirar fotografia”, me dizia o Mandela, “então, isso é a realização máxima.”
Além disso a nossa relação, e é o Dulci que cuida da relação com o movimento social, eu penso que não existe, na história republicana, ou não sei se não existe na história da América do Sul, algum momento em que o movimento social esteve tão próximo das relações mais saudáveis possíveis com o governo do que nós temos hoje.
Vejam que os companheiros do Movimento Sem-Terra fizeram uma grande passeata em Brasília. Organizada, muito organizada. E todo mundo achava que era um grande protesto contra o governo. O que aconteceu? A passeata do Movimento Sem-Terra terminou em festa, porque nós fizemos um acordo entre o governo e o Movimento Sem-Terra, pela primeira vez na história, assinando um documento conjunto.
Alguns dias depois, foi a Confederação da Agricultura, milhares de trabalhadores. E quando chegaram no Palácio, já tinha um acordo firmado com os companheiros, que foram para as ruas fazer uma festa.
Esse tipo de comportamento, de mudança que houve no Brasil, demonstra que a democracia veio para ficar. A democracia veio, no nosso país, para se consolidar. E vocês, que são visitantes, companheiros que estão preocupados com as notícias que têm saído no Brasil, tenham consciência de uma coisa: seria impensável que eu fosse governar este país quatro anos e não tivesse problemas. Seria impensável, ou seja, nós já conseguimos o máximo, ou seja, nós já conseguimos fazer com que o FMI fosse embora sem precisar dar nenhum grito.
Eu dizia para o Palocci: Palocci, o que você vai fazer quando não precisar mais fazer acordo com o FMI? Porque alguns aqui passaram a vida inteira gritando, ou seja, de repente você construiu uma situação política em que não precisou fazer absolutamente nada a não ser dizer: não precisamos mais do acordo com o FMI.
Na política, o que está acontecendo eu encaro como uma certa turbulência, mas que só existe efetivamente num processo que vai se consolidando fortemente, da democracia.
Eu quero que vocês saibam e voltem para os seus países com a certeza de que eu entendo que a corrupção é uma das desgraças do nosso continente, e muitas vezes quando alguém falava que nós éramos pobres por conta do imperialismo, eu dizia: pode ser até meia-verdade, mas a outra verdade é que nesses países da América do Sul e da América Latina nem sempre nós tivemos dirigentes que fizessem as coisas corretas para o seu povo e com o dinheiro público.
É por isso que tenho afirmado, num pronunciamento, que seremos implacáveis com adversários e com aliados que acharem que podem continuar utilizando o dinheiro público para ficarem ricos (é sério???), mas da mesma forma seremos também implacáveis no trabalho de consolidar o processo democrático brasileiro. Não permitiremos retrocesso. Alguns, antes de nós, morreram para que nós chegássemos onde nós chegamos (Celso Daniel), e nós temos consciência do sacrifício que se fez no Brasil, do sacrifício que se fez no Chile, do sacrifício que se fez na Argentina, do sacrifício que se fez no Uruguai, do sacrifício que se fez no Peru, do sacrifício que se fez na Colômbia, em todos os países, para que o povo pudesse sentir o gosto da coisa chamada democracia.
E, portanto, nós, estejam certos disso, o Lula que vocês conheceram há quinze anos atrás está mais velho, mas também muito mais experiente e muito mais consciente do papel que temos que jogar na política da América do Sul, da América Latina, da África e, eu diria, na nova concepção de política no mundo inteiro.
Não foi fácil criar o G-20, não. Não foi fácil convencer um grupo de países de que era possível mudar a geografia comercial do mundo se estabelecêssemos entre nós um grau de confiança e de relação em que pudéssemos, cada um de nós, entender que temos que nos ajudar muito mais. É por isso que hoje a gente pode olhar para vocês e dizer: a relação comercial Sul-Sul aumentou em mais de 50%. Nós estamos comprando mais e vendendo mais de nós mesmos. Nós estamos estabelecendo parcerias entre nossas empresas. Esses dias, fizemos não sei quantos acordos, 26 acordos, com a Venezuela. Agora foi feito um monte de acordos com a Colômbia. Estamos fazendo acordo com a Argentina, com o Chile, ou seja, os nossos empresários têm que se encontrar, estabelecer parceria. Os nossos sindicalistas têm que se encontrar e estabelecer formas conjuntas. Os partidos têm que se encontrar, os parlamentares têm que se encontrar, o Foro de São Paulo tem que exigir cada vez mais a criação de um parlamento do Mercosul para que a gente possa consolidar definitivamente o Mercosul, não como uma coisa comercial, mas como uma instância que leve em conta a política, o social, o comercial e o desenvolvimento.
Esses dias, nós fomos à Guiné-Bissau. Aliás nós já visitamos mais países da África, acho, do que todos os governantes da história do Brasil. E fomos à Guiné-Bissau e fizemos uma reunião. Guiné-Bissau é um país de língua portuguesa, pequeno, praticamente destruído. E eu dizia ao Presidente e aos parlamentares: para que guerra, para que uma guerra na Guiné-Bissau? É um país destruído. A única chance que aquele país tem é a construção da paz, eles têm que construir um país para depois brigar pelo poder, porque senão estão brigando em torno de nada. Nem o Palácio Presidencial está de pé. Eu fui ao banheiro do Presidente, não tinha água. E eu dizia: meu Deus do céu, vocês precisam encontrar um jeito de transformar a paz na mais importante bandeira de vocês, porque somente a partir dela é que vocês poderão construir o país. (filosofices)
Esse trabalho é um trabalho que leva anos e anos. E nós apenas estamos começando. Nós apenas estamos transitando pelo mundo tentando estabelecer uma nova ordem, em que a gente consiga as vitórias na Organização Mundial do Comércio, que precisamos. E foi assim que nós ganhamos a questão do açúcar, foi assim que nós ganhamos a questão do algodão, foi assim que nós ganhamos a questão do frango congelado. Parece pouco, mas era muito difícil ganhar uma coisa na Organização Mundial do Comércio. E por conta do G-20 já ganhamos três e poderemos ganhar muito mais, adotando o princípio que nós aprendemos desde que começamos a nossa militância política, de que se todos nós nos juntarmos, nós derrotaremos os outros.
Por isso, eu tenho viajado muito. Eu viajei, possivelmente, em dois anos, mais do que muitos presidentes viajaram e vou continuar viajando, porque as soluções para os problemas do Brasil não estão apenas dentro do Brasil, as soluções para os problemas de Cuba não estão só dentro de Cuba, não estão dentro da Argentina, não estão dentro da República Dominicana, não estão dentro do México, ou seja, é preciso que a gente resolva outros problemas externos para que a gente possa consolidar as soluções de alguns problemas internos.
Por isso, meus companheiros, minhas companheiras, saio daqui para Brasília com a consciência tranqüila de que esse filho nosso, de 15 anos de idade, chamado Foro de São Paulo (a "criança" já tem um pai), já adquiriu maturidade, já se transformou num adulto sábio. E eu estou certo de que nós poderemos continuar dando contribuição para outras forças políticas, em outros continentes, porque logo, logo, vamos ter que trazer os companheiros de países africanos para participarem do nosso movimento, para que a gente possa transformar as nossas convicções de relações Sul-Sul numa coisa muito verdadeira e não apenas numa coisa teórica.
E eu estou convencido de que o Foro de São Paulo continuará sendo essa ferramenta extraordinária que conseguiu fazer com que a América do Sul e a América Latina vivessem um dos melhores períodos de democracia de toda a existência do nosso continente.
Muito obrigado a vocês. Que Deus os abençoe e que eu possa continuar merecendo a confiança da Coordenação, que me convide a participar de outros foros.

Até outro dia, companheiros."


Discurso do presidente Lula da Silva, no ato político de celebração aos 15 anos do Foro de São Paulo - SP / 02 de julho de 2005


Publicado proposital e oportunamente no Dia da Proclamação da República !


13 novembro 2006

Um dia sem a "Zelite"


Alguém se lembra daquele filme chamado "Um dia sem mexicanos"?

A idéia era ótima: um belo dia, os americanos, que vivem reclamando dos "ilegais" que vêm do México, acordam sem nenhum mexicano à vista.

Não há mais ninguém para cuidar das crianças, fazer faxina, servir nos restaurantes, lavar os carros, trabalhar nas obras e assim por diante.

Infelizmente a execução da idéia, como cinema, não era lá aquelas maravilhas; mas o recado contra o preconceito e a estupidez foi dado com graça e veneno.

Depois de assistirmos a asquerosa postura petista "contra as elites" e a calma do “ômi” que descansa de barriga pra cima na Bahia; porque afinal prometeu um governo para os pobres e problemas de aeroporto são, como se sabe, coisa de rico (e de quem não tem Aerolula também...), acho sugestivo imaginar se não estaria na hora de alguém fazer um filme parecido: "Um dia sem a Zelite".

Começaria assim: “Era uma vez...” não, não. Tudo errado. Não é um “conto de fadas”, mas um filme.

Então vamos tentar de novo: um belo dia, o Brasil acordaria exatamente de acordo com os sonhos do pai do "Ronaldinho das Telecomunicações": a elite, que tanto o sabota, teria sumido toda.
Não haveria mais professores nas escolas, médicos e enfermeiros nos hospitais, pilotos nos aviões (não fariam tanta falta, pois não há controladores suficientes para guiá-los mesmo), engenheiros, arquitetos, químicos, físicos, juízes e advogados nos tribunais, os ônibus não circulariam e as lojas não abririam. A Polícia não sairia dos quartéis e nem das delegacias.
Não haveria previsão do tempo, nem geração de energia, nem internet. Os telefones ficariam mudos. Rádio, televisão e jornais desapareceriam - estão vendo que beleza?

Ninguém para criticar o governo!

Nem é preciso dizer que toda e qualquer operação bancária estaria suspensa; e que, em desaparecendo a Zelite, desapareceriam também os impostos, certo ou errado? Certo, claro. Afinal sobre o que incidem os tributos senão sobre a produção e varejo?

Aí sim, finalmente, o Brasil estaria "arrumadinho para crescer", sem ninguém para atrapalhar...

E agora tchau, porque a "zelite" aqui não vive de “fantasias” e tem mais o que fazer.

10 novembro 2006

VERDADES E MENTIRAS SOBRE O NOSSO POVO


Brasileiro é um povo solidário.
Mentira.


Brasileiro é babaca. Elege para o cargo mais importante do Estado um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari, só porque tem uma história de vida sofrida; paga 40% de sua renda em tributos e ainda dá esmola para pobre na rua ao invés de cobrar do governo uma solução para pobreza; aceita que ONG's de direitos humanos fiquem dando palpites na forma como tratamos nossa criminalidade; não protesta cada vez que o governo compra um colchão para presidiários que queimaram os deles de propósito, não é coisa de gente solidária. É coisa de gente otária.



Brasileiro é um povo alegre.
Mentira.



Brasileiro é bobalhão. Fazer piadinha com as imundícies que acompanhamos todos os dias é o mesmo que tomar bofetada na cara e dar risada.
Depois de um massacre que durou quatro dias em São Paulo, ouvir o José Simão fazer piadinha a respeito e achar graça, é o mesmo que contar piada no enterro do pai.
Brasileiro tem um sério problema: quando surge um escândalo, ao invés de protestar e tomar providências como cidadão, ri feito bobo do episódio.



Brasileiro é um povo trabalhador.
Mentira.


Brasileiro é vagabundo por excelência. O brasileiro tenta se enganar, fingindo que os políticos que ocupam cargos públicos no país surgiram de Marte e pousaram em seus cargos, quando na verdade são oriundos do povo. O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado ao ver um deputado receber 20 mil por mês para trabalhar 3 dias e “coçar o saco” o resto da semana, também sente inveja e sabe (lá no fundo) que se estivesse no lugar dele faria o mesmo.
Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de 90 reais mensais para não fazer nada e não aproveita isso para alavancar sua vida (realidade da brutal maioria dos beneficiários do bolsa-esmola) não pode ser adjetivado de outra coisa senão de vagabundo.



Brasileiro é um povo honesto.
Mentira.


Já foi. Hoje é uma qualidade em baixa. Se você oferecer 50 dólares a um policial norte-americano para ele não te autuar, provavelmente você irá preso. Não por medo de ser punido pelos superiores, mas porque ele sabe ser errado aceitar propinas. O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado com o "mensalão", pensa em fazer concurso público pra "mamar" nas tetas do governo, pensa intimamente o que faria se arrumasse uma "boquinha" dessas, quando na realidade isso sequer deveria passar por sua cabeça.


A maioria dos que vivem na favela é gente honesta e trabalhadora.

Mentira. Já foi.


Historicamente, as favelas se iniciaram nos morros cariocas (o Morro da Favela foi o primeiro) quando os negros e mulatos retornando da Guerra do Paraguai ali se instalaram, juntamente com os imigrantes sem qualificação e os degradados. Naquela época quem morava lá era gente honesta, que não tinha outra alternativa e não concordava com o crime. Hoje a realidade é diferente. Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como "aviãozinho do tráfico" para ganhar uma grana legal.
Se a maioria da favela fosse honesta, já teria existido condições de se tocar os bandidos de lá para fora, porque podem matar 2 ou 3 mas não milhares de pessoas. Além disso, cooperariam com a polícia na identificação de criminosos, inibindo-os de montar suas bases de operação nas favelas. Pura balela e invencionice.


O Brasil é um país democrático.
Mentira.


Num país democrático a vontade da maioria é Lei. A maioria do povo acha que bandido bom é bandido morto, mas sucumbe a uma minoria barulhenta que se apressa em dizer que um bandido que foi morto numa troca de tiros, foi executado friamente. Num país onde todos têm direitos mas ninguém tem obrigações, não existe democracia e sim, anarquia.
Num país em que a maioria sucumbe bovinamente ante uma minoria barulhenta, não existe democracia, mas um simulacro hipócrita.
Se tirarmos o pano do politicamente correto, veremos que vivemos numa sociedade feudal: um rei que detém o poder central (presidente e suas MP), seguido de duques, condes, arquiduques, marqueses e senhores feudais (ministros, senadores, deputados, prefeitos, vereadores). Todos sustentados pelo povo que paga tributos os quais tem, como único fim, o pagamento dos privilégios dos poderosos.


E ainda somos obrigados a votar.
Democracia é isso?
É óbvio que não.
O que vemos hoje no país é a maximização da enorme mentira que nós mesmos criamos, durante anos, e que se transformou nessa enorme quimera, uma "bolha assassina", que agora se volta contra o povo que a criou e alimentou, com voracidade e ferocidade luciferinas.

08 novembro 2006

LEITURAS "INSTRUTIVAS"

"Um caso intrigante, o da exoneração de Márcio Araújo de Lacerda, secretário-executivo do ministro Ciro Gomes. Lacerda estava na lista de sacadores de Valério, agraciado com R$ 457 mil. O dinheiro foi usado para pagar os serviços publicitários de uma agência que trabalhou na campanha de Lula, no segundo turno de 2002. A eleição de Lula, portanto, teve dinheiro de caixa 2. O caso repercutiu durante o depoimento do tesoureiro Delúbio Soares à CPI do Mensalão.

Eis o diálogo travado entre Delúbio e o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS):

JR – O dinheiro foi enviado para Ciro Gomes?

DS – Sim.

JR – Pagou despesas de campanha de Ciro ou Lula?

DS – De Ciro.

JR – Mas Ciro disse que foi serviço prestado pelo marqueteiro dele no segundo turno à campanha de Lula.

DS – Não foi. O dinheiro pagou serviços prestados pelo (publicitário) Einhart à campanha de Ciro no segundo turno.

JR – Mas Ciro não foi candidato no segundo turno. Ele apoiou a candidatura Lula.

DS – O Einhart trabalhou com o Duda Mendonça. Eles filmaram o Ciro para o programa de Lula no segundo turno. O dinheiro pagou despesas que o Ciro teve no segundo turno.

JR – Então o dinheiro de Valério, de caixa 2, pagou despesas de campanha de Lula no segundo turno.

Delúbio silenciou. "








(trecho do livro - O Chefe, de Ivo Patarra)