23 outubro 2006

VOCE É O PATRÃO

Fazia tempo que queria reformar minha casa.
Foi-me indicado um profissional que diziam fazer um bom trabalho.
Não o apoiei, mas toda a minha família ficou satisfeita com a contratação dele.
Diziam que, mesmo sem muita experiência, era um cara honesto e coisa e tal.
Mas, forçoso dizê-lo, ele nunca me convenceu com seus argumentos, a minha família sim.
Encheu-nos de promessas, falando que faria isso e aquilo, que resolveria tal problema, que mexeria nos alicerces.
Em suma, que tudo ficaria como novo.
Mas, de uma hora pra outra, começaram a sumir coisas lá de casa.
Uma caneta, alguns DVD's, um rádio.
Depois as coisas desaparecidas foram ficando maiores.
Quando dei por mim, tinham-me levado até o carro.
Confrontei o homem a quem havia contratado.
Ele acusava seus ajudantes, dizendo que não sabia de nada.
Segundo ele, estava focado apenas no trabalho.
Descobriu, logo depois, que minhas suspeitas eram verdade.
Seus funcionários estavam roubando de mim.
Trocou de equipe.
Mandou todos embora e trouxe novos ajudantes.
A reforma continuava, ainda que a passos curtos e lentos.
Nesse momento, eu e minha família estávamos mais do que desconfiados.
Mas demos outra chance, desta vez com olhos mais abertos.
No entanto, as coisas continuaram a sumir de casa, mesmo com a nova equipe.
O chefe seguia se eximindo da culpa, sempre que pegava algum dos seus roubando.
"Não sei de nada, como posso responder por eles?", dizia o homem.
Um dia, acabou o prazo para entregar a casa pronta.
Faltou muito para chegar ao menos perto do que havia prometido.
O pior é que, ao longo do tempo de trabalho, ele foi mudando tudo o que falara no início.
Se tinha dito fazer uma coisa, ia lá e fazia outra.
Se assumira compromisso com a minha família em relação a tal assunto, pouco depois parecia que esquecera completamente.
Simplesmente parecia outra pessoa.
Mesmo com tudo isso, o safado ainda teve a cara-de-pau de vir me pedir por mais tempo de trabalho.
Sim, depois de todos os seus ajudantes terem me roubado, tanto os velhos quanto os novos, depois de ter mentido descaradamente para mim, depois de me prometer coisas que não chegou nem perto de cumprir, depois de se fazer de inocente frente a todas as acusações, ele ainda queria continuar dentro da minha casa.
Claro que eu jamais aceitaria isso.
Não sou idiota.
Minha família veio dizer que nas outras reformas isso havia acontecido também, coisas haviam sumido.
Tudo bem, pode ter acontecido, mas nunca tão descarado quanto agora.
Nunca mesmo.
E, de qualquer forma, desde quando os erros dos caras do passado justificam o roubo do cara de agora?
Era só o que me faltava: deixar um ladrão, mentiroso e ignorante na minha casa por mais tempo porque "outros também fizeram".
Se dependesse só de mim, contrataria outro agora mesmo.
E se esse outro me roubasse novamente, contrataria outro.
Até um deles me respeitar.
Até eu achar alguém que faça o trabalho de forma decente e ética.
O problema é que combinei com a minha família que ninguém tomaria uma decisão dessas sozinho.
O que a maioria decidir, será feito.
A votação ficou pra domingo, dia 29.
Só espero que as 180 milhões de pessoas que moram comigo mostrem-se mais inteligentes do que parecem.
A qual destes pretendentes ao emprego você confiaria a sua casa ?









Nosso país é a nossa casa.

8 Comments:

Blogger Nat said...

Alexandre,

Mais uma vez vc nos brinda com um excelente texto! Sim, somos "patrão", mas ainda agimos como vassalos. Muitos continuam a achar que se deve "deixar o homem trabalhar".

Não creio que até o próximo dia 29 esta situação mudará.

Bjs

4:23 PM  
Blogger Da C.I.A. said...

É a analogia perfeita. Eu sempre digo isto, não contrataria um bêbado, preguiçoso e ladrão nem mesmo para serviços pequenos em casa, quanto mais daria voto a um deles.

4:26 PM  
Blogger Alexandre, The Great said...

Ângelo e Nat.

Pode até acontecer isso no dia 29/10; mas com certeza não seremos cúmplices.
"A maior justiça é aquela que fazemos de nós mesmos."

5:54 PM  
Blogger Moita said...

Alexandre

Metáfora perfeita. como sempre você é imbatível.

Tenho recebido seus excelentes e-mails e repassados e me divirtido e chorado.

Alguns gostaria relembrados; outros gostaria esquecidos.

Mas é assim mesmo que voce e todos nós temos que fazer.

Lutar contras os facínoras, até que um dia acertaremos.

Se o Geraldo eleito, começar a roubar e/ou mentir, A Moita vai continuar descendo o cacete do mesmo jeito.

um abraço
Ps. estou melhor de saude,pero non muicho.

6:47 PM  
Blogger Suzy said...

Sem dúvida, Alexandre, contratar 2 vezes o mesmo ladrão é conivência, em alguns casos, e, em outros, estupidez.
Espero sinceramente que nossa grande família brasileira ponha no olho da rua este safado e sua corja!
Eu voto Geraldo Alckmin para presidente.
Um abraço

7:28 PM  
Blogger Kaka da Motta said...

Alexandre,
infelismente as pessoas que habitam este pais não pensam desta forma, não tem noção do poder que tem na mão.

7:31 PM  
Blogger Saramar said...

Alexandre, que beleza de texto!
Este sim deveria ser reproduzido e distribuído nas esquinas porque escrito em uma linguagem que o povo entende perfeitamente.
Vou indicá-lo lá no site do Alckmin, agora mesmo, se me permite.

beijos

8:29 PM  
Blogger Kafé Roceiro said...

Realmente perfeita a analogia. Amigo, você faz jus ao "The great", que acrescentou ao seu nome. E vamos de 45 até o fim...

10:40 AM  

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