EM BUSCA DA VERDADE PERDIDA ( OU NUNCA ENCONTRADA )
A construção da verdade é um assunto muito controverso.
Hoje em dia vemos inúmeras pessoas se referindo ao tema, de forma apaixonada, como se pudessem “resgatar” algo que historicamente jamais existiu, a “VERDADE VERDADEIRA”.
Mas que pleonasmo é esse?
Existiria porventura uma “VERDADE MENTIROSA” que se oporia a ela?
Ocorre que desde os primórdios da convivência humana em sociedade estudiosos e pesquisadores tentam elaborar “a receita do bolo”, mas até hoje não se conseguiu "uniformizar" uma fórmula que produza uma VERDADE única ao final de um processo.
Isso significa dizer que os processos de construção da verdade tiveram uma evolução histórica e foram sendo adequados pelos governos, de acordo com cada cultura, a partir da avocação pelo Estado do monopólio da justiça e da força.
Assim sendo, podemos dispor três formas de produção da verdade:
- a revelação divina
- o inquérito
- o exame
Na primeira, encontrada na sociedade grega arcaica, a pressuposição era a existência apenas de dois personagens, a verdade seria obtida através do sistema da prova legal, consistindo no enfrentamento entre acusador e acusado, numa luta ou num jogo, onde o soberano apenas estabeleceria as regras da disputa.
Nesse sistema os fatos são irrelevantes, relevante é o método da disputa para a produção da verdade e ao final o vencedor, por "obra divina", era revelado o detentor da verdade.
Essa forma também se verifica na Alta Idade Média e no Antigo Direito Germânico.
Na produção da verdade pelo sistema da prova legal não havia ação pública, ou seja, ninguém, além dos envolvidos, poderia deflagrar o processo; quem não já leu algum livro ou já viu algum filme sobre os famosos duelos ou contendas?
Em segundo lugar, uma vez iniciada a ação penal, pela declaração de um indivíduo que julgasse haver sido lesado por outro, a ação tinha prosseguimento numa espécie de guerra particular entre os dois e doravante o direito regularia apenas as normas da disputa, uma forma regulamentada de promover a guerra entre as partes.
Finalmente havia a possibilidade do acordo, da transação, mesmo após o início da disputa. Para tanto os dois oponentes, acordados entre si, elegeriam um árbitro que estabeleceria um valor pecuniário como resgate - não que este viesse a resgatar o dano ou o crime praticado, mas um valor atribuído à vingança, que se tornara o objeto da disputa.
O sistema de produção da verdade por inquérito, representado na obra de Sófocles – “Édipo-Rei”, o assassinato do Rei Laio é investigado a partir de uma nova figura – o pastor testemunha – que através do seu depoimento traz nova dimensão à produção da verdade.
Durante a Inquisição Eclesiástica a Igreja também se valeu do sistema do inquérito, na Idade Média, para a produção da verdade – inquisitio generalis e inquisitio especialis.
O Santo Ofício institui a confissão como um tipo de “requisito para salvação da alma”, uma vez que o corpo pagaria de qualquer jeito.
O sistema inquisitorial eclesiástico não se aplicaria às faltas comuns entre os indivíduos, mas tornar-se-ia mais abrangente socialmente, alcançando todas as camadas sociais, principalmente as mais abastadas, por atingir os rotulados como hereges.
Materializava-se através da visitatio - o bispo percorria a diocese e ao chegar a cada vilarejo promovia uma Inquisitio generalis – que visava descobrir o que havia acontecido no lapso temporal entre a visita anterior e aquela, inteirando-se de todo o ocorrido; caso algum fato merecesse atenção era promovida uma Inquisitio specialis – que visava descobrir o autor e a natureza do ato.
A tortura física é a materialização do método de obtenção da confissão, e esta como expiação da alma, uma vez que o corpo físico já fora previamente condenado e a confissão seria buscada até mesmo depois de prolatada a sentença.
O sistema de produção da verdade por exame tem origem no século XIX na Inglaterra com o surgimento do trial by jury , um julgamento pelos pares onde quem viu não pode julgar e tudo tem que ser construído perante os juízes: EVIDENCE – FACT – PROOF.
A construção da verdade se baseia na entrevista e o sistema pressupõe a disciplina e não a repressão. Na entrevista a verdade é construída, o entrevistador não a conhece e busca construir uma verdade em "cumplicidade" com o entrevistado.
Um juiz delibera sobre as regras de exclusão – exclusionary rules – ou seja, aquilo que poderá ou não ser negociado entre as partes e o sistema tende a produzir uma normalização na sociedade.
Sendo a busca da VERDADE uma obsessão tão antiga da Humanidade, como poderemos descobri-la sem a subjetividade das evidências e do convencimento pessoal de cada um ?
Não adianta querer reinventar a roda.
“A ERA DA PROCRASTINAÇÃO, DAS MEIAS MEDIDAS, DOS EXPEDIENTES QUE ACALMAM E CONFUNDEM, A ERA DOS ADIAMENTOS ESTÁ CHEGANDO AO FIM. NO SEU LUGAR, ESTAMOS ENTRANDO NA ERA DAS CONSEQUÊNCIAS”.
Winston Churchill, 1936
Winston Churchill, 1936
6 Comments:
Excelente blog!!! É mesmo para voltar..aqui com + tempo.
Abraço
Paulo
A verdade é consequencia da conveniência de cada um, independentemente das leis. É assim que ela se mostra.
Se temos o livre arbítrio, questiono: "Porque errar se tem o certo como opção?"
Cada um deve responder pelas suas conveniências com argumentos e sustentações suficientes para deixar claro que atende aos anseios da Sociedade.
E que a Justiça se faça. Que a interpretação de "Olho por olho" seja somente o entendimento de que para cada delito haja uma pena em proporção semelhante ao dano causado se não teremos ums Sociedade cega...
Olha, eu acho que tenho uma forma absoluta para a busca verdade, ao menos em termos políticos e, lógico, "a nível de Brasil": A verdade está sempre no oposto do que diz um petista!
Disse "Sou inocente"? É culpado.
Disse "Eu não sabia"? É chefe da quadrilha.
Disse "Vamos nos juntar e conversar com as oposições"? Quer enterrar as oposições e comprá-las.
Infalível, não?
Alexandre, no caso do desgoverno atual dos petistas a VERDADE é literalmente rasgada em substituição pela REVELAÇÃO DIVINA, submissa à vontade do deus lullla.
As consequências, como você a coloca, essa eu quero ver.
Adorei!
Um abraço
Oi, meu querido. Voltei e, como sempre, encontro aqui, uma aula.
Senti falta do blog, demais. Irei ler tudo com cuidado e volto a comentar, certo?
beijos
Que texto interessante, Alexandre, parabéns!
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