02 fevereiro 2006

LIDERANÇA OU DOMINAÇÃO – O DILEMA BRASILEIRO

O fato social, hodiernamente em nosso país representado pelo embuste e enganação, é tão antigo quanto o surgimento do Homem na face da Terra. No livro de Gênesis, 4.8,
[...] “Caim disse então a Abel, seu irmão: - ‘Vamos ao campo’. Logo que chegaram ao campo, Caim atirou-se sobre seu irmão e matou-o.”

Na ausência do ordenamento jurídico, nos sistemas sociais tribais dos primórdios da civilização, relegava-se ao exílio, ao afastamento do meio social, aqueles que praticassem atos lesivos ao senso comum de ordem, desde o início da vida em sociedade o Homem quer afastar de si aqueles semelhantes considerados nocivos. Esses renegados, condenados a perambular pelo mundo, sem identidade familiar, sem tribo, mas ainda seres sociais, não raro encontravam-se e se associavam. O Homem é gregário. Suas vicissitudes os aproximavam, ao mesmo tempo os embruteciam. Revolta, indignação e vingança são sentimentos que os unem e os organizam – constituem verdadeiros “exércitos de rejeitados sociais”.

Antigas lendas dão conta das invasões de aldeias pelas hordas constituídas pelos filhos renegados, que ao voltarem praticavam o parricídio, o rapto e o estupro e, na ausência do ordenamento jurídico, imperava a lei do mais forte, a dominação pela força física, pela brutalidade, a submissão dos mais fracos, a escravização, enfim, o império da barbárie.

Nesse contexto, segundo o historiador romano Tito Lívio, um grupo renegado de habitantes de Albalonga, seguidores de seus príncipes etruscos, veio a se estabelecer numa região da península itálica rodeada por sete colinas. A esse grupo juntaram-se os latinos e, no ano de 753 a.C., já sob o império de Rômulo, são traçadas no chão as linhas sobre as quais seriam erguidas as fortificações que circundariam as colinas, onde se ergueria a cidade de Roma. Rômulo, que se intitulava o preferido dos deuses, matou seu irmão gêmeo Remo, pois este discordava de seus planos de dominação pela brutalidade. Sozinho, arquitetou um plano de expansão do seu império dentro do qual incluiu, e executou, o Rapto das Sabinas, mulheres dos sabinos, uma tribo vizinha, as quais foram levadas para Roma a fim de procriarem e expandir a jovem cidade.

A dominação , que vertebra as ações sociais, confere a Roma e seus “cesares” um poder contra o qual pareceria impossível opor-se. Seguem-se séculos de conquistas, lutas, imposições. O povo de Roma acredita na legitimidade do poder do “César” e a sua cultura transcende seus limites territoriais. A única maneira de haver uma mudança nessas relações sociais, conforme nos ensinaria Weber , seria pelo surgimento de um ídolo, o qual pela dominação carismática pudesse corroer a dominação tradicional de Roma, e ela veio. O grande problema da liderança carismática, e nesse caso estamos nos referindo àquela exercida por Jesus, é que sendo toda fundada na pessoa, o que ocorrerá com o Estado quando o ídolo morrer?

Para Weber, num primeiro momento, ocorrerá uma crise naquele meio social, a seguir a sociedade tenderá para a rotinização, e a liderança legada poderá se tornar tradicional ou racional-legal, porém não mais retornará à modelagem anterior, de dominação carismática, haja vista a ausência do ídolo.

Assim podemos entender essa ascensão e queda do império romano.

Com o mesmo entendimento, num salto milenar na história do Homem, podemos enxergar que o líder carismático só se manterá no poder se contar com alguma legitimidade na população ou parte dela (através de um pleito, por exemplo), e ainda, se contar com algum reconhecimento por parte de seus opositores, de políticos ou da imprensa; o que parece já não ocorrer mais.

Ocorre que impostores não conseguem liderar nações, muito menos embusteiros, mesmo que a reboque de campanhas publicitárias miliardárias que negaceiam sua sorrelfa, dando-lhe belo invólucro, e conseguindo fazer com que obtenha um aparente e efêmero sucesso, mas para logo a seguir ser desmascarado pelas burundangas que veio a proferir.

A situação que vivenciamos, de 2003 para cá, lembra-me um velho ditado que me foi ensinado pelo meu avô português: “por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento.”

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

A maquiagem derrete com o tempo e as verdadeiras feições se revelam... Beijos!

9:14 AM  
Blogger Moita said...

Alexandre

Extraordinário texto. Parabéns

Ontem vi o senador Almeida Lima
Dizer ta provado que o presidente não
tem competência pra governar.
Não governa, não administra e não lidera.
É o fim.
abs

9:46 AM  
Blogger Saramar said...

Alexandre, bom dia.
Uma aula! Excelente texto.
O preocupante é que as pessoas menos informadas se apegam justamente a esses penduricalhos da publicidade enganosa, acreditando e escolhendo o produto falsificado até que este exploda em suas mãos.

Beijos

10:03 AM  
Blogger Santa said...

Alexandre,

Acabo de enviar seu texto (já não é a primeira vez) aos meus alunos da disciplina de estética. A estética da barbárie. Brilhante!!

Bjs

PS: desculpa a demora em chegar, os 2 últimos dias estão de amargar. Até meus posts estou publicando com data programada...

5:01 PM  
Anonymous Anônimo said...

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3:14 AM  
Anonymous Anônimo said...

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7:13 PM  
Anonymous Anônimo said...

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