15 março 2006

AS DITADURAS NO BRASIL - 1ª PARTE


O presente editorial visa apresentar uma visão abrangente, e ao mesmo tempo sintética, dos períodos ditatoriais vividos no Brasil, em atenção àqueles leitores que valorizam a História como aliada.

O texto será apresentado sob uma forma narrativa e em dois capítulos, tendo sido selecionado o período republicano como universo de pesquisa.

Os primeiros anos da república no Brasil, chamada de República Velha, foram conturbados. Realmente não era fácil realizar-se a transição de um regime monárquico para uma república representativa. As dificuldades surgiram logo nos dois primeiros anos, quando se instalou o Governo Provisório, liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, o qual adotou como principais medidas: o federalismo, a separação entre Estado e Igreja, os Três Poderes da República, uma grande naturalização, a bandeira da República e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte para a elaboração da Nova Constituição da República.

Com a eleição do próprio Deodoro da Fonseca em 1891 para Presidente, tendo em vista forte oposição da oligarquia cafeeira de São Paulo, podemos dizer que foi implantada uma ditadura pois o Congresso foi dissolvido e seus parlamentares presos. Aí tivemos a 1ª quebra da democracia, a qual não durou muito tempo pois Deodoro da Fonseca, sem apoio e tendo contrariado a Constituição, não resistiu às pressões e renunciou em favor do vice Floriano Peixoto, conhecido como o “Marechal de Ferro” que sofreu várias revoltas em seu governo, dentre elas a 2ª Revolta da Armada e a Revolução Federalista do Rio Grande do Sul.

Seguiram-se os governos civis de Prudente de Morais e Campos Sales onde a república conheceu o poder das oligarquias, tendo esse período, e os seguintes, recebido a denominação de “república do café com leite”, onde o poder alternava-se entre os Partido Republicano Paulista (café) e Partido Republicano Mineiro (leite). A partir daí até 1930 essas oligarquias, através de seus representantes, governaram o país impondo aos trabalhadores regimes de trabalho duríssimos, fortemente impregnados das práticas colonialistas do Império e da escravidão. Não haviam contratos fixos de trabalho, as jornadas prolongavam-se por até 15 horas diárias, não havia seguridade social, tampouco planos de aposentadoria.

A partir de 1923 até 1930 começam a surgir movimentos trabalhistas, iniciados pela mão de obra dos imigrantes europeus que eram preferidos pelos patrões em detrimento do trabalhador nacional. Este, o nacional, era rotulado como preguiçoso, beberrão, revoltado e indolente, sendo considerado inútil para o trabalho. Como diria Lúcio Kowarick (Trabalho e Vadiagem, 1987):



“ Tanto é assim que, em plena crise do trabalho servil, a grande imprensa afirmava que:’...os ex-cativos, como a maior parte dos caipiras, fogem ao trabalho. Se vão para as fazendas como camaradas, poucos dias param. São excessivamente exigentes, morosos no trabalho, param a cada momento para fazer cigarro e fumar, nas horas das refeições demoram-se indefinidamente, bebem, poucos se sujeitam a fazer um feixe de lenha...”



O nacional (caipiras e ex-escravos) era desvalorizado como mão de obra; os “senhores fazendeiros” preferiam os imigrantes brancos europeus, aparentemente mais dóceis e fáceis de lidar, entretanto foram estes que iniciaram os sindicatos e o “movimento anarquista”. Tudo desemboca na Revolução de 1930 e a ruptura com as oligarquias.



O Brasil conheceria então, já a partir de 1937, após um golpe de estado, o período ditatorial de Getúlio Vargas (Estado Novo) que iria até o fim da 2ª Guerra Mundial (1945). Curiosamente foi um período de grandes conquistas sociais dos trabalhadores nacionais. Diversos institutos de aposentadoria e pensões são criados, as leis trabalhistas são promulgadas e aquele nacional indolente e beberrão é valorizado como mão de obra tendo em vista a expansão industrial que se configurou no país.
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943 representou um marco na história do trabalhismo brasileiro.

Com o fim do Estado Novo (período ditatorial de Vargas) o Brasil volta à democracia. Nos anos 50 vive-se a “febre da civilidade”, todo mundo queria ser civilizado, seguindo movimento europeu do pós-guerra.

As capitais do sudeste são o objeto do desejo de nordestinos, capixabas e nortistas. As cidades não estão preparadas para receber, a cada mês e a cada ano, tamanho contingente de famílias que aqui desembarcam em “busca da felicidade”, do emprego urbano e da melhoria de vida. O êxodo rural e o movimento migratório para o Rio e São Paulo são conseqüências da precarização do trabalho agrícola ocasionado pela queda da exportação desses produtos e a política de “industrialização” interna do governo Vargas.

(continua...)

5 Comments:

Blogger Saramar said...

Alexandre, excelente lição. Tanto o tema quanto sua esposição.
Uma dúvida que sempre tive foi justamente sobre a motivação de Vargas para realizar a reforma trabalhista Terá sido uma exigência das empresas que, então, se instalavem no país?

Beijos
P.S. Obrigada, tanto pelo puxão de orelhas, quanto pelo elogio exagerado.

4:18 PM  
Blogger Santa said...

Já vi que o dossiê promete!! este blog está virando uma rica biblioteca (rssss)

Beijos

9:05 PM  
Blogger Moita said...

Alexandre

Belissima palestra, esta rei na primeira fila, apesar de viajar hoje e voltar em 4 dias.

Um abraço.

2:44 PM  
Anonymous Anônimo said...

Alexandre,

bom trabalho. Seu blog ajuda a entender o processo político brasileiro. Parabéns.

Aluízio Amorim
http://oquepensaaluizio.zip.net

5:16 PM  
Blogger Unknown said...

Ótima de novo Alexandre,

Pior será constatar que todos os períodos de conquistas sociais reais do povo brasileiro foram nas ditaduras, há menos corrupção, que o Brasil se desenvolve mais... espero que com seu novo curso eu mude minha visão, mas infelizmente creio que não. Será que somos como os Iraquianos? Ruim com Sadan, muito pior sem ele. Espero que não.

Beijo

1:14 AM  

Postar um comentário

<< Home