17 março 2006

AS DITADURAS NO BRASIL – 2ª PARTE



Em 1964 um novo golpe de estado, liderado por militares, toma o poder do Presidente João Goulart, que é deposto, e implanta-se uma ditadura com a nomeação de uma Junta Militar para governar o país; todos os direitos políticos são restringidos e os partidos comunistas são extintos, o Congresso é fechado e os direitos e garantias individuais são sumariamente abolidos.

Este período será conhecido, mais tarde, como os “anos de chumbo” e caracterizou-se por perseguições políticas e forte controle social impostos pela Polícia e pelo Exército.

Curiosamente, a exemplo da ditadura Vargas, foi o período em que a sociedade brasileira obteve as maiores conquistas sociais da história republicana, como nos relataria Wanderley Guilherme dos Santos (Cidadania e Justiça, 1979):


“Marcante na evolução brasileira, todavia, é o fato de que os períodos em que se podem observar efetivos progressos na legislação social coincidem com a existência de governos autoritários. Os dois períodos notáveis da política social brasileira identificam-se, sem dúvida, ao governo revolucionário de Vargas e à década pós-1966.”



A década de 80 traria de volta a democracia, após um movimento nacional denominado "Anistia ampla, geral e irrestrita"; assim, com a chamada “Nova República”, desde então e até os dias atuais não se teve no país um regime ditatorial; contudo vale dizer que tal conclusão refere-se apenas ao campo político.


Se considerarmos a esfera econômica poderíamos dizer que os dois períodos de governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, pela recessão e forte retração da economia imposta a título de “controle da inflação” através do Plano Real, podem se caracterizar uma “real ditadura econômica” tendo em vista as sucessivas perdas salariais dos trabalhadores, os sete anos sem aumento dos funcionários públicos, o arrocho sobre os professores, enfim a classe trabalhadora de um modo geral sofre esta verdadeira “ditadura econômica”.

Lula assume em janeiro de 2003 e mantém a ditadura econômica de FHC, através do Ministro Palocci, entretanto aparelha o Estado com milhares de nomeações e institui a “contribuição obrigatória” (o valerioduto) das empresas para a “causa” – o projeto de perpetuação no poder, contingencia o orçamento, aplicando ínfimas parcelas das verbas destinadas a proteção social – educação, saúde, segurança e infra-estrutura, concede 0,01% de reajuste ao funcionalismo, taxa os aposentados em 11% ignorando cláusulas pétreas da Constituição Cidadã, compra o parlamento despudoradamente e manieta o judiciário com nomeações.

Tantas pessoas a “sangrarem” os cofres públicos resultou num total descontrole do projeto, cujo eixo era mantido a “mãos de ferro” por José Dirceu, como se viu a partir das denúncias de Roberto Jefferson (este sim, um “esfaqueado nas costas”).

A evisceração da crise, devido a sua abrangência e alcance, transpareceu como uma cutucada num ninho de vespas, com ataques raivosos por todos os lados e a compreensível, mas não justificável, irritação daqueles que tiveram seus esquemas desnudados perante a nação.

Lula, o “nosso” Macunaíma Gump, tal e qual um autista, preferiu o contra-ataque do discurso reacionário contra as “elites”, para a seguir se voltar para as camadas menos informadas da população e reatar a “campanha eleitoral”, da qual tirara “pequenas férias”, mas jamais havia abandonado.

A atual ditadura é mais perigosa que as anteriores, pois além de todos os ingredientes políticos destas, embute o revanchismo e a desconstrução de instituições basilares do regime democrático – o Parlamento e o Judiciário.

É perigosa porque destrói os alicerces da democracia, privilegia o grande capital, os banqueiros, enquanto paralelamente “arrocha” a classe média criando um “nivelamento por baixo”, ao mesmo passo em que amplia a “esmola oficial”, e gera uma população dependente e submissa socialmente ao “soberano”.

É o mais puro despotismo.

(espaço aberto para discussão)

13 Comments:

Blogger O Fantasma de Bastiat said...

Alexandre,
Você está sendo um precursor. Um dia, quando passar esta onda de bobalhões esquerdistas e do "pensamento único", quando os escritores de livros didáticos forem menos de esquerda e mais inteligentes, serão textos como o seu que nós leremos nos livros de história. Lulla pode espernear à vontade, pode até se reeleger, mas é como um corrupto incompetente, como um incentivador da miséria e da ignorância, que ele entrará - pela porta dos fundos - para a história.
Um abraço.

9:40 PM  
Blogger ex-petista said...

Alexandre, finalmente consegui colocar no Blog os meus links preferidos.Um abraço.

1:07 AM  
Blogger Santa said...

Alexandre,
Vc está me saindo um exímio historiador, da história recente do Brasil, dos modernos e corajosos, é claro!!!Estou acompanhando tudo...
Beijos no coração!

2:08 AM  
Anonymous Anônimo said...

Alexandre, o blog está com problemas (não sei até quando). Usarei o blog assistente TOCA DA SANTA, por onde dá acesso.
Bjs
http://tocadasanta.blogspot.com/

10:27 AM  
Blogger Serjão said...

Alexandre: Ótima a varredura. Quanto ao Gump, as questões maiores são as questões conceituais, E é nesse pinto que eu me atenho para votar em Anti Lula. Abraços

3:46 PM  
Anonymous Anônimo said...

Discordo em 2 pontos:

O que vcs chamam de avanço social representa perda de competitividade de nossa economia (custos trabalhistas) e agravante do deficit fiscal (custos previdenciarios).

Avanço social não pode se dar através de paternalismo e políticas demagógicas! É uma conquista natural qdo temos uma economia livre e enxuta, sem tantos impostos e encargos. Desenvolvimento gera renda e renda gera avanço social qdo o modelo não é concebido de forma equivocada como o brasileiro.

Chamar o ajuste economico da era FHC de ditadura econômica é algo bastante estranho! Se isso não tivesse sido feito e o REAL fosse mais um daqueles planos mirabolantes, os pobres estariam mais pobres e a situação econômica estaria completamente deteriorada.

A manutenção da política econômica advém do desequilibrio fiscal! Ninguém combate isso!
FHC gastava muito e tinah taxas de juros altas, enfrentou algumas crises internacionais e o país era e é vuneravel!

Lulla gasta muito mais e a taxa é estratosférica!

Agravam os 2 governos o descontrole sobre a ação dos banqueiros... que tem mecanismos perversos que não são combatidos!

Aliás, a eleição já foi decidida em pról dos banqueiros, pois Lulla e Alckmin não tem bala na agulha para mexer nesse vespeiro.

9:51 PM  
Blogger Unknown said...

Alexandre,

Você é um excelente historiador, só espero que Lula entre logo para a história e nos deixe em paz.
Discordo do Sombra, no plano real e no primeiro mandato de FHC, ele fez a lição de casa direitinho, mas no segundo mandato perdeu a mão. Falando nisso me vem à cabeça como seria um segundo mandato de Lula. SOCORRO, DEUS NOS LIVRE!!!

Beijo

12:40 AM  
Blogger Santa said...

Alexandre, finalmente o blog voltou graças a ajuda da Star!! Perdi todos os meus links mas vou recuperá-los, um a um...Beijos

9:06 AM  
Anonymous Anônimo said...

Alexandre, uma aula perfeita! Um etxto para ser relido sempre. Concordo com o Nemerson.
A reeleição é um instituto para o qual o país não esá preparado. POr isso, estamos passando por tantos problemas com a corrupção e imoralidade política.

Beijos
P.S. Postei sobre as instituições, inspirada neste seu texto, claro que longe da excelência que aqui vemos.

2:12 PM  
Blogger Lata Mágica Recife said...

Professor Alexandre, não sei se gosta de trabalho de fotografia experimental(artesanal) então visite nosso blog e dê sua opinião,

Estamos com nova exposição de fotografias no blog da lata "Do Rústico ao Moderno". Vá lá, vc e todos os nossos amigos do blog!!!

3:14 PM  
Anonymous Anônimo said...

Star não pode discordar então!rs
Falei o mesma coisa... só não concordei com a divisão entre mandatos!

FHC teve altos e baixos...

5:36 PM  
Anonymous Anônimo said...

Salve, Alexandre,

agradeço a visita e o link, que terei prazer em retribuir. Encontro aqui um blog reflexivo e bem escrito.
Fazes bem em alertar para a corrosão das instituições democráticas. Mais quatro anos para Lula será a demolição total do que resta dessas instituições.

Abraço,
Tambosi

9:10 PM  
Blogger Camarada Arcanjo said...

Discutir o quê?

Você falou tudo certo, nossos pensamentos sociais e políticos são muito similares. Você escreve muito bem e diz coisas, que eu digo e, que muitos tem medo de dizer ou assumir.
A análise do momento é perfeita, assim como perfeita, também, está a sua análise da história.

Parabéns.

12:50 AM  

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