30 março 2006

POR QUE NÃO SERVE?




Tenho observado muitos questionamentos a candidatura Alckmin, seja denegrindo sua imagem através de apelidos, seja chamando de "fraquinho", "insosso" e outros adjetivos.

Eu sempre questionei, antes da indicação deste candidato, a polarização sobre os "candidatos paulistas" - Serra e Alckmin - pois não conseguia entender a "obsessão" que dominava a blogosfera sobre esta definição entre os dois tucanos. Naquela ocasião questionava se haveria uma terceira via, se não poderíamos ter como opção um Jefferson Perez, ou um Cristóvam Buarque, sei lá, algum outro candidato que não especificamente os dois tucanos.

Entretanto os mais variados segmentos da mídia eletrônica, através de jornalistas ou de comentaristas, sempre insistiram na “teoria da indefinição”, ora qualificada pela expressão “a tibieza das oposições”, ora como a causa da “recuperação” de Lula em “pesquisas eleitorais” intempestivas.


A partir do momento que se definiu qual o candidato do PSDB, o que parecia ser o anseio daquela maioria de "eleitores ansiosos", começou a "campanha de desmoralização" do mesmo. Para mim, enquanto um observador dos fatos, parece que o "chuchu" foi indicado pelo PT, ou pelo menos é o candidato que "interessa" ao PT.

Se os "eleitores ansiosos", aqueles mesmos que cobravam a definição do candidato tucano para oferecer um contraponto ao lulismo, não forem todos uns retardados, recomendo que acordem e vejam que estão jogando o jogo do PT - o da dissimulação e do embuste - e que passaremos a assistir doravante uma "guerra de bugios" entre Lula e Alckmin, a qual se acirrará ante a aproximação do pleito, ocasião em que assistiremos o "golpe fatal" - o "abraço do afogado".

Como não me incluo no rol dos "retardados", e nem me escondo nas "sombras" - criticando todos os candidatos que surgem e ao mesmo tempo não apontando nenhum – ao contrário digo que Alckmin é o que basta, é o que se precisa, é suficiente, não é "um Brastemp" mas prestará para o objetivo, que acredito ser da maioria dos brasileiros - apear o Macunaíma Gump do poder.

Não sou militante de nenhum partido, tampouco um entusiasta da candidatura Alckmin, a quem aliás pouco conheço. Em todos os meus comentários, nestes quase dez meses que freqüento os blogs políticos, procuro mostrar de forma clara minha convicção – eu sou anti-Lula.

Contra o seu “projeto de perpetuação no poder”, contra o “império da bandalheira” que o PT instituiu no governo, enfim, contra o “gangsterismo partidário” das vestais da “ética e da moralidade públicas”. Para tanto, qualquer candidato que até outubro se mostrar em condições de derrotar o Macunaíma Gump receberá o meu voto.
Sendo assim: por quê não serve o “chuchu”?
Não concordo com os “profetas do caos”, ou, como disse Jabor - “copro-ideólogos” ou “papa-bostas”: gostam do ‘quanto pior, melhor’. Acham que só uma grande tempestade de merda salva o país... Depois do excremento, virá a bonança purificadora.

Tampouco me identifico com os “cientistas do nada”: têm a crítica perfeita do sistema e também a solução, desde que as “condições objetivas” do mundo mudassem para caber em suas teorias. Como não mudam, não há solução, que eles lamentam, do alto de seus tristes compêndios, em casa, com seus chambres de seda, nariz empinado e uísque “on the rocks” nas mãos.

Entretanto o fato de não concordar com suas idéias não os tornam meus inimigos, considerando o próprio axioma deste blog, visível em seu cabeçalho. Neste espaço, assim como no blog da Saramar onde gentilmente fui convidado a colaborar, sempre estimulei o contraditório e as discussões sobre os mais variados temas propostos.

Por possuir este entendimento não cairei na “arapuca petralha”, que semeia a discórdia e a ira, as insinuações maliciosas, o deboche, as afirmações insanas, as quebras de sigilo, as chantagens, os assassinatos e por aí a fora. Continuarei a pregar (apenas para o Executivo) o voto útil (nem tanto devido ao “chuchu”) em lugar do voto nulo (que fortalece a candidatura petralha), assim como expressarei sempre, sem dissimulações, mas também sem rancores e principalmente sem grosserias, minhas idéias e propostas, mesmo que contraditas ao autor do texto em evidência, por entender ser este um exercício de democracia, além de um direito inalienável de qualquer cidadão.

29 março 2006

NÃO PERCA A PRÓXIMA ATRAÇÃO!

Cronologia dos episódios (apenas aqueles que consigo recordar como mais relevantes)

JUNHO - O escândalo do mensalão estourou em 7 de junho, com denúncias de Roberto Jefferson. De lá para cá, após várias investigações e políticos depondo em CPIs (dos Correios e do Mensalão), foi descoberto um esquema complexo de caixa dois, envolvendo não só os petistas, mas pefelistas, tucanos e PMDB. Dirceu renuncia à Casa Civil em 16 de junho. No dia seguinte, Jefferson sai da presidência do PTB. Mais tarde, alguns deputados confirmam a história da mesada em troca de apoio político.


JULHO - descobrem o primeiro documento que liga Marcos Valério ao PT, em que ele é avalista de um empréstimo de 2,4 milhões. Delúbio Soares e José Genoíno (então presidente do PT) assinaram o documento. Silvinho e Delúbio saem do PT. Mais tarde, descobre-se um empréstimo de 20 milhões do Banco do Brasil ao PT, sem avalistas ou garantias. É quebrado o sigilo bancário de Jefferson, Delúbio, Genoíno e Dirceu. No dia 8, o assessor do irmão de Genoíno é encontrado com R$ 200 mil numa mala e R$ 100 mil na cueca. No dia 15, Valério diz que os empréstimos eram feitos para montar o caixa 2 do PT. Descobrem que João Paulo Cunha, então presidente da Câmara, havia sido beneficiário de saque de 50 mil na conta de Valério. No dia 20 é instalada a CPI do Mensalão. Desaparecem documentos referentes aos saques feitos por João Paulo.


AGOSTO - No dia 2 o Presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo, confessa que sua campanha à reeleição do Governo de Minas manteve um caixa 2, tendo recebido dinheiro do esquema de Valério. Jefferson acusa emissários do PT e PTB de ir à Portugal Telecom pedir dinheiro para quitar diívidas dos dois partidos. Descobre-se que dinheiro das contas de Valério foi usado pra pagar advogados de desfesa no caso Celso Daniel. No dia 9, Valério diz que fez, a partir de 2003, seis empréstimos no Banco Rural e no BMG, no valor de R$ 55 milhões, e os repassou a Delúbio. No dia 11, Duda Mendonça depõe espontaneamente e acusa Marcos Valério de ter pedido para que ele abrisse uma conta num paraíso fiscal para receber o pagamento pelo seus serviços prestados ao PT nas campanhas de 2002 e 2004. O pagamento teria sido feito com dinheiro de Caixa Dois, o que comprometeria até mesmo a campanha do presidente Lula. O advogado Rogério Buratti é preso em Ribeirão Preto acusado de lavagem de dinheiro. Ele trabalhou como secretário municipal de Ribeirão Preto, na gestão do então prefeito Antonio Palocci, atual ministro da Fazenda. Depois ele revelou esquema de recebimento de dinheiro "por fora" de prefeituras do interior de Minas e São Paulo, envolvendo Palocci, que foi prefeito (1993-1996) de Ribeirão Preto e acusando-o de receber 50 mil reais de empresas de coleta de lixo. Palocci nega tudo.


SETEMBRO - No dia 1º as CPIs dos Correios e do Mensalão aprovam relatório que sugere a cassação de dezoito parlamentares envolvidos no escândalo. São eles Carlos Rodrigues (PL-RJ), João Magno (PT-MG), João Paulo Cunha (PT-SP), José Borba (PMDB-PR), José Dirceu (PT-SP), José Janene (PP-PR), José Mentor (PT-SP), Josias Gomes (PT-BA), Paulo Rocha (PT-PA), Pedro Correia (PP-PE), Pedro Henry (PP-MT), Professor Luizinho (PT-SP), Roberto Brant (PFL-MG), Roberto Jefferson (PTB-RJ), Romeu Queiroz (PTB-MG), Sandro Mabel (PL-GO), Valdemar Costa Neto (PL-SP) (que já havia renunciado um mês antes), Vadão Gomes (PP-SP), Wanderval Santos (PL-SP). No dia 4, surgem denúncias de um esquema de extorsão ("Mensalinho") praticado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, contra o dono de um restaurante do Congresso. O Deputado Carlos Rodrigues (da lista de cassações) decide renunciar. Em 14 de setembro, é aprovada a cassação do mandato de Roberto Jefferson (PTB-RJ), com 313 votos a favor, 156 contra, 13 abstenções, 5 brancos e 2 nulos. Cristóvam Buarque vai para o PDT. Aldo Rebelo, do PCdoB, é eleito presidente da Câmara.





OUTUBRO - Em 11/10, Berzoini é eleito presidente do PT. Os deputados José Borba e Paulo Rocha (da lista de cassações) renunciam a seus mandatos. No dia 19 o tesoureiro Claudio Roberto Mourão da Silveira diz que Marcos Valério emprestou dinheiro para a campanha de Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas, em 1998. Em 22/10, Delúbio é expulso do PT. Em 25/10, Azeredo renuncia à presidência do PSDB. Alguns deputados se dizem vítimas de escutas telefônicas e investigações da Abin. Lula "inicia" sua campanha eleitoral percorrendo o país.

NOVEMBRO - No dia 3, Osmar Serraglio (PMDB-PR) diz que cerca de 10 milhões de reais foram desviados do Banco do Brasil através da Visanet para as contas de Marcos Valério, que repassou a quantia para o PT. O ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto (PL) declara que usou caixa dois em 11 campanhas eleitorais e recebeu R$ 410 mil de Valério. Em 17/11, a CPI do Mensalão termina.


DEZEMBRO - No dia 1º, José Dirceu é cassado com 293 votos a favor e 192 contra. A Polícia Federal mostra laudos de perícia que atestam a falsidade de 80 mil notas fiscais na contabilidade das agências de publicidade DNA Propaganda e SMPB, de Marcos Valério. Em 9/12, o Conselho de Ética aprova por 12 votos a 2, o pedido de cassação do mandato do deputado Romeu Queiroz (PTB-MG). A Câmara rejeita a cassação por 162 votos a 252. Em 14 de dezembro, Roberto Jefferson entra com um recurso na Justiça para reaver o mandato. No dia 21, a CPI dos Correios divulga relatório que aponta para a existência do mensalão. Seriam quatro padrões de funcionamento do esquema: pagamentos semanais para o PL, dinheiro para trocas de partido, compra de votos de parlamentares e pagamentos para o PP. No dia 27, a CPI analisa uma lista de 400 funcionários da Câmara que podem estar ligados ao mensalão.


JANEIRO - Veja diz que Duda Mendonça tinha outras duas contas no paraíso fiscal no Caribe, totalizando mais de R$ 6 milhões. No dia 20, o ex-bispo da Igreja Universal Wanderval Santos (PL-SP), acusado de receber R$ 150 mil do mensalão, é indicado para cassação.


MARÇO: A Câmara absolve, por 283 votos contra 156, o deputado Roberto Brant (PFL-MG). Houve 18 abstenções e um voto foi anulado. (...) Acusado de receber R$ 102,8 mil das arcas clandestinas de Marcos Valério, Brant não negou o fato. Alegou, contudo, que a agência SMP&B, de Valério, foi mera intermediária de uma doação feita pela empresa privada Usiminas. 'Não há um centavo de dinheiro público', disse.


(...) Com a decisão, além de legitimar o caixa dois de um réu confesso, a Câmara abre grave precedente. Qualquer mensaleiro que venha a ser cassado doravante, poderá alegar que foi vítima de uma injustiça. Daqui a pouco, irá a voto o processo de cassação do deputado professor Luizinho (PT-SP). Ele recebeu bem menos do que Brant: R$ 20 mil. (...)"


(...) O deputado Professor Luizinho (PT-SP) livrou-se da cassação do mandato por 253 votos contra 183.

(...) Ex-líder do PT, Luizinho beliscou R$ 20 mil nas arcas espúrias do empresário Marcos Valério, a quem Delúbio Soares terceirizara a tesouraria do PT.

(...) Com as decisões tomadas, já são quatro os deputados poupados em plenário. Além de Brant e Luizinho, a Câmara já havia absolvido Romeu Queiroz. Um quarto parlamentar, Sandro Mabel (PL-GO), fora retirado da fila de cassação antes mesmo de chegar ao plenário, ainda no Conselho de Ética da Câmara. Considerando-se que outros quatro deputados -Valdemar Costa Neto (PL-SP), Carlos Rodrigues (PL-RJ), Paulo Rocha (PT-PA) e José Borba (PMDB-PR) - renunciaram aos mandatos para fugir do patíbulo, contam-se em oito os mensaleiros que preservaram o direito de concorrer às próximas eleições. Entre todos, só Roberto Brant disse que abandonará voluntariamente a política.(...)"


O Presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-AL) viu as últimas absolvições do escândalo do mensalão -Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP) - a partir de uma ótica curiosa.O deputado afirmou: "O resultado corresponde a uma tradição da Casa. Nunca houve nem haverá cassações ou absolvições em massa".

(...) Entre os mensaleiros que ainda aguardam na fila do patíbulo, respira-se uma atmosfera de otimismo. Wanderval 'R$ 150 mil' dos Santos (PL-SP), por exemplo, arriscou: "Tenho certeza de que o plenário vai fazer justiça como está fazendo. Meu caso é muito parecido com o do Professor Luizinho". Em meio à revolta dos deputados que integram o Conselho de Ética da Câmara, cujo trabalho o plenário tem lançado ao lixo, um Luizinho com o pescoço intacto já queima os miolos bolando uma estratégia para socorrer o amigo João Paulo "R$ 50 mil" Cunha. Ele evita, porém, revelar detalhes do seu plano.




A CPI dos Bingos convoca o caseiro Francenildo Santos Costa para depor sobre os eventos realizados na “casa de negócios” do Lago Sul. Ele afirma ter visto o “chefe” Palocci umas 10 ou 20 vezes naquele endereço, mas logo a seguir é retirado da sessão pela chegada de uma liminar do STF em Mandado de Segurança interposto pelo Senador Tião Viana do PT/AC.


24 horas após ter comparecido a CPI dos Bingos, a Revista Época publica uma matéria em que aparece o caseiro Francenildo como beneficiário de depósitos “sem origem comprovada” em sua conta bancária na CEF. O caseiro é intimado pela Polícia Federal a prestar esclarecimentos e diz que recebeu estes depósitos de seu pai biológico – um empresário do Piauí. Em Teresina, o gerente da CEF “convoca” o cliente para explicar os depósitos e este os confirma, constrangido pela exposição pública dos motivos.



A CPI dos Bingos reitera o pedido de convocação do caseiro Francenildo junto ao STF, mas o Ministro Eros Grau impede.


O Deputado João Magno – PT tem aprovado o relatório que indicava sua cassação por 8 votos a 6, no plenário foi absolvido e a Deputada Angela Guadagnin (PT/SP) comemora o fato dançando. O insólito episódio ficou rotulado como “a dança da pizza”.


A CEF estipula o prazo de 15 dias para apurar a responsabilidade pela quebra de sigilo da conta bancária de Francenildo, a oposição parte para o ataque e exige a imediata renúncia do Ministro da Fazenda.



Decorrido o prazo estipulado, a Polícia Federal anuncia já haver detectado a autoria da quebra de sigilo do caseiro. O presidente da Caixa Econômica – Jorge Mattoso confessa haver recebido os extratos e levado em mãos ao Ministro Antônio Palocci na casa deste.



O Ministro da Fazenda – Antônio Palocci pede seu afastamento do cargo, em carta entregue a Lula. O Diário Oficial da União publica sua demissão à pedido. Jorge Mattoso é destituído da Presidência da CEF.



No mesmo dia – Francenildo Santos Costa é convocado a depor na Corregedoria do Senado, porém sob a égide da medida liminar do STF não poderia falar sobre assuntos inerentes à CPI. Surpreendentemente nesta sessão o Senador Eduardo Suplicy (PT/SP) revela mais um “imbróglio”: ao questionar o caseiro sobre uma retirada feita em espécie de sua conta bancária que teria sido do conhecimento de um amigo deste e que, por ser jardineiro de uma casa ao lado e pertencente a um Senador do PT, teria contado a ele – que por coincidência é casado com uma jornalista das Organizações Globo, e o tal Senador teria levado o fato ao conhecimento do Ministro Palocci. Fatos estes ocorridos – à exceção do saque de Francenildo – no dia que Francenildo teria ido depor na CPI dos Bingos. O fato se torna relevante pois adiciona a PREMEDITAÇÃO ao crime cometido contra o caseiro.


A seguir o Dep Osmar Serraglio apresenta o Relatório Final da CPI dos Correios, onde cita o Presidente Lula, pede os indiciamentos de José Dirceu, Luiz Gurshiken, Delúbio Soares, Marcos Valério, Sen Eduardo Azeredo, mas poupa os 18 parlamentares do “mensalão”, o que provoca reações indignadas até mesmo do Presidente da CPMI – Senador Delcídio Amaral. Diante disso o relator Serraglio reconhece o "erro" e admite alterar o Relatório propondo os indiciamentos.



A afirmação que emerge de toda esta seqüência de episódios altamente reprováveis e criminosos é sintomática: “jamais se viu tantos criminosos a cometerem tantos crimes, de forma orquestrada e continuada, quer isoladamente ou em bando ou quadrilha, na história deste país nos últimos 500 anos”.


A pergunta que exsurge das inúmeras patranhas, marandubas, fraudes, carapetas, lérias e aldravices destes ladravazes é: “qual a próxima atração?”

28 março 2006

ANTÍTESES

"O homem faz a religião, a religião não faz o homem .. . A religião é o suspiro da criatura atormentada, o sentimento de um mundo sem coração, como o é o espírito de estados fora do tempo. Ela é o ópio do povo." (Karl Marx, em "Manifesto Comunista")


"O marxismo é o ópio dos intelectuais." (Raymond Aron)


"Estamos resolvidos a tudo o que é possível: astúcias, artifícios, métodos ilegais, calar, dissimular, etc." (Lènin)


"O socialismo não funciona, exceto no céu, onde não é necessário, e no inferno, onde sempre existiu." (Stephen Leacock)


"A Ditadura do Proletariado é a dominação não restringida pela lei e baseada na força." (Lènin, "O Estado e a Revolução")


"O comunismo é o regime da força bruta e da violência planificada." (Padre Antônio Feitosa)


Apenas para que não esqueçamos, até outubro, aquilo que iremos legar para os nossos filhos e netos.

27 março 2006

"NESSE ANGU TEM CAROÇO"


Amigo pessoal de Lula, o presidente do Sebrae Paulo Okamotto disse ter pago uma dívida de R$ 29,4 mil que o presidente tinha com o PT.

Okamotto afirmou à CPI dos Bingos que fez a quitação da dívida de Lula em dinheiro por orientação do então tesoureiro do partido Delúbio Soares. Lula, o “autista”, no entanto, nunca soube de nada.

Ele teria também pago uma dívida de R$ 26 mil da filha do presidente, Lurian Cordeiro Lula da Silva (referente ao contrato de aluguel de um imóvel). Mais uma vez, o pai-presidente nada sabia.

Além disso, doou ainda R$ 24,84 mil para a campanha de Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, à Prefeitura de São Bernardo, em 2004.

O STF (Supremo Tribunal Federal) tem sistematicamente impedido a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Okamotto.

Já os sigilos do caseiro Francenildo não são assim, tão “sigilosos”.
Por que será mesmo, hein?
Deve ser por causa “daquilo”.
Mas o que significa este “aquilo”?
Todo mundo sabe, ou melhor, todo mundo tem medo que descubram “aquilo” sobre si mesmos, em diferentes escalas de gravidade, é óbvio.

Minha falecida avó, uma “caipirona” lá de Batatais/SP, metaforizava assim “aquilo”: “Chiiiii.... nesse angu tem caroço.”

26 março 2006

CARTA DE UM BRASILEIRO (ou de MILHÕES de brasileiros)

Dentre as inúmeras notícias, e-mails, correspondências e mensagens que recebo, algo se destaca vez por outra, seja pelo inusitado conteúdo, seja pela originalidade da proposta ou pela representatividade e identidade do objeto. O texto abaixo transcrito despertou um sentimento de identidade tão grande que achei relevante sua publicação. Não conheço pessoalmente seu autor, mas a difusão, via mailing, feita pelo mesmo por si só autoriza sua reprodução.

"Ao assistir ao Jornal Nacional de hoje fiquei pasmo. E indignado. E triste.
E descrente no futuro deste país.
Ao ouvir o presidente da república declarar num comício eleitoral visando
a sua reeleição, violando as leis do país, a Constituição e demonstrando
elefantino desprezo pela inteligência de uma nação de 180 milhões de
pessoas que "o PT não pode ser criticado por erros humanos cometidos" e que "há dois mil anos que a humanidade erra", só me ocorreu um pensamento:
O homem está bêbado, louco ou é um picareta pronto e acabado.
Desliguei a televisão após terminar o jornal e fiquei meditando sobre o
que ouvira. Uma coisa me chamou a atenção: foi aplaudido entusiasticamente
pelos presentes. Vasculhei os recônditos de minha memória e tirei de lá
de dentro a primeira impressão que Luiz Inácio Lula da Silva me deixou
quando, em 1974, morando em São Paulo, eu o vi falar na televisão pela
primeira vez: este sujeito é um picareta! Esta foi a impressão que tive
dele quando o vi na televisão pela primeira vez. E esta impressão foi formada
por alguns detalhes importantes: a cara dele, o aspecto dele e o que ele
disse naquela ocasião. O aspecto e a cara, eram de um tremendo malandro
picareta. A fala era de um sujeito ignorante, analfabeto, intolerante, arrogante,
mal educado, primário, sem princípios morais.
Pensei: meu Deus, esse sujeito é o maior líder sindical deste país?
O sujeito falou cobras e lagartos dos americanos, dos capitalistas, da
democracia, dos militares brasileiros, e teceu loas às lutas de classes,
ao socialismo, à Fidel Castro e a tudo o que não presta no mundo.
O governo era a chamada ditadura militar. Ditadura militar coisa
nenhuma, senão ele tinha se estrepado! Se fosse uma verdadeira ditadura ele
hoje estava implorando a Alah para reencarnar no Iraque, ou Irã, ou
Paquistão ou qualquer desses países que só produzem miséria e terrorismo.
Voltemos ao fato. O presidente do Brasil disse que o seu partido não
pode ser acusado dos erros humanos que cometeu e que desde Adão e Eva os
seres humanos cometem erros.
Há um problema, porém: erro humano é uma coisa, crime é outra
completamente diferente. Quem tem senso moral sabe disso. Trair a mulher ou vice-versa é erro humano, grave. Chegar atrasado a um compromisso é erro humano, condenável. Ser grosseiro com os semelhantes é erro humano.
Não saber se comportar na sociedade em que se vive é erro humano.
Humilhar os demais, é erro humano. Existem centenas de outros erros
humanos, todos derivados de uma educação falha ou da falta de educação. Mas roubar, praticar a corrupção, formar uma quadrilha para assaltar os cofres
públicos, o dinheiro do povo, prevaricar, mentir e obstruir a justiça,
formar caixa dois para comprar votos de incautos e ganhar eleições,
montar o maior esquema de corrupção já visto neste país para comprar um parlamento, envolvendo nisto empresas públicas e particulares e se
mancomunando com mafiosos, torrar bilhões de reais em "programas"
sociais que só servem para alimentar a corrupção e perpetuar a miséria,
torrar outros bilhões em viagens inúteis a países falidos que não têm nada
a oferecer ao Brasil, nada disto é erro humano. É crime capitulado nos
códigos criminais de qualquer país. Se as autoridades encarregadas de
zelar pelo cumprimento destas leis e da constituição brasileira fazem
vista grossa a toda essa bandalheira que está destruindo o país como nação,
então estamos diante de outro crime grave e de uma constatação: o Brasil
não é mais um país, uma nação, e sim, um valhacouto de facínoras. Se o
poder judiciário brasileiro, que se diz independente, e está na Constituição
que é, e que tem a obrigação cívica de fazer cumprir as leis, fecha os olhos e se mancomuna com toda esta imoralidade, então precisamos chamar o xerife.
Só que o Brasil não tem mais Xerife!
Existe um problema sério com a psicologia do picareta. O picareta não
possui nenhuma noção dos valores humanos e morais que devem reger as
vidas das pessoas e das nações. Em razão dessa sua cegueira moral, o crime
para ele não é crime e pode ser classificado como erros humanos,
simplesmente e facilmente perdoáveis. Na psicologia do picareta, tudo é
permitido. Pode-se fazer tudo e depois, pede-se desculpas ao distinto público, como essa quadrilha do PT já pediu, a começar pelo chefe picareta, e fica tudo
por isto mesmo. Na visão dessa ralé que só pensa em si mesma e tem na
ponta da língua um escroto discurso populista pronto e ensaiado para enganar
analfabetos, um simples pedido de desculpas e uma declaração de erro
humano basta. Ao ouvir o que o senhor Lula da Silva afirmou hoje a minha convicção sobre a sua pessoa se confirmou: o homem não está bêbado e nem louco.
É apenas um picareta.

Resta-nos imaginar o que vai acontecer com um país de 180 milhões de
pessoas governado por um picareta que faz parte de uma quadrilha
denominada Partido dos Trabalhadores que já violou todos os códigos da
ética da moral e do direito, exige provas para crimes de corrupção como se corruptos assinassem recibos, conta com o guarda chuva de um poder
judiciário venal e também corrupto e onde ninguém levanta a voz contra tudo isto.

Em mim, isto provoca náuseas e um frio na espinha. E principalmente
desprezo!

E em você?


Ricardo E. Jardim Rodrigues

Eng. Civil
CREA n.º 19901042286/D/RJ"



Na minha opinião, faço apenas uma pequena correção ao texto do autor: o PT nunca se desculpou perante a nação, e nem o presidente.

E você, o que acha?

23 março 2006

EXCLUSÃO SOCIAL - O NOVO MODELO

3ª PARTE - OS NEO-EXCLUÍDOS “MADE IN BRAZIL”



Agora estamos entendendo as diferenças conceituais entre as três categorias das iniqüidades sociais : a desigualdade, a pobreza e a exclusão. Então, talvez, não soe como absurdo o fato de admitirmos que a desigualdade, dentro de determinados limites – quais sejam o da indigência – não se constitui nenhum problema para a sociedade moderna. Em termos moderados, é, na realidade, um de seus componentes, legítimo, essencial e benéfico. A desigualdade entendida como forma natural de estratificação social, pois seres humanos são iguais biológica e fisicamente, também devem ser iguais juridicamente quando vivem em sociedade, mas não se pode pretender igualar suas habilidades pois estas dependem do intelecto e do individualismo de cada um. Caso contrário como construir um prédio só com engenheiros? Ou, ao contrário, somente com os serventes de pedreiro? E os eletricistas?

Por outro lado, se a pobreza relativa é um simples e puro reflexo da desigualdade – a pobreza absoluta tem outra conotação e autonomia – a sua existência não constitui – em si – uma ameaça para a sociedade contemporânea. Isso na medida em que for temporal, circunstancial.

No ideário da sociedade moderna – não confundir com a nossa triste realidade – há momentos de grande inovação tecnológica que geram desempregos e conduzem grupos sociais significativos a situações de miséria, mas logo se desfazem com a disseminação das novas tecnologias e a preparação para recolocação do grupo nos novos postos de trabalho. Para enfrentar esses momentos a sociedade moderna criou mecanismos de proteção social, dentre os quais podemos destacar o auxílio-desemprego.
Inversamente à pobreza, a exclusão social, enquanto expulsão de grupos sociais do espaço da igualdade, se constitui um problema para a sociedade moderna, pois se opõe frontalmente ao seu ideário.

Se a democracia da Grécia antiga excluía escravos, mulheres, estrangeiros e os não-proprietários de terras, sendo portanto restritiva, a democracia moderna está assentada no princípio de que todos os homens são iguais, assim, membros de direito do espaço público da gestão dos bens comuns, é, dessa forma, abrangente e inclusiva.
Sendo assim, a exclusão, na segunda acepção e, sobretudo, na terceira, é uma ameaça real e constante, não só para os grupos de excluídos, senão para a própria democracia que tenderá à ruína pela implosão de suas bases.

Ela é, a exclusão, uma ameaça constante pois paralelamente a existência de espaços iguais e a inexistência de exterioridade, expulsa ou impede o ingresso de determinados indivíduos na esfera da igualdade, negando-lhes o direito à lei única, ao mesmo tempo em que cria um ambiente exterior inadmissível para a modernidade que se pretendeu ser universal.

A constituição da exclusão social é hoje a maior ameaça a construção da sociedade moderna, uma ameaça direta ao seu ideário de igualdade, que Montesquieu denominou “convenção fundante”. E sua repulsa está presente na condenação, e mesmo rejeição, aos regimes excludentes que se criaram ao longo do século XX, como o nazismo na Alemanha e o apartheid na África do Sul.

Mas afinal, quem são os neo-excluídos?

O “Estado-mamute”, conforme configuração dada pelo atual governo, é, por mais paradoxal que possa parecer, o maior promotor da nova classe de excluídos.
A democracia moderna, principalmente sob a forma do presidencialismo representativo, pressupõe um chefe do executivo eleito por uma maioria mas que governe para todos os cidadãos, aí incluídas as minorias. Ser eleito com 53 milhões de votos não pode significar um governo voltado para 53 milhões de indivíduos, senão de que forma viverão os restantes 130 milhões de habitantes? Mas nem isso o PT faz.

A “nova ordem” do PT exclui os “não-petistas”. Se por um lado os adeptos e militantes do regime são os “escolhidos”, a outra face é a da exclusão de direitos, pois seus indivíduos são “desnecessários” como seres políticos, mas tão somente como “contribuintes” para a manutenção do “Estado-mamute”. Não que se pretenda, de forma demagógica, “incluir a todos” neste “paquiderme”, mas tão somente evidenciar as diferenças de tratamento entre os “do PT” e “o resto”.

Estes são os neo-excluídos, indivíduos que preferem viver num país onde se possa, através da capacidade pessoal e produtiva, ascender na escala social, mesmo sabendo e admitindo que existirão aqueles que, embora dotados das mesmas oportunidades não o façam. Não se admitem, por exemplo, sublimar seu potencial e estagnarem na tábula rasa que se impõe pelo assistencialismo do governo.

Sinais não faltam de que caminhamos a passos largos e acelerados para o atraso e o subdesenvolvimento – o regime de cotas nas Universidades públicas e os programas assistencialistas da “esmola oficial” são exemplos claros da neo-exclusão. O regime de cotas exclui porque, ao contrário da universalidade das regras gerais, preconiza a partição para determinado grupo – isso apenas para tratarmos o assunto de forma genérica, haja vista ser tema para inúmeros debates. A “esmola oficial” reduz à condição de “dependente social” indivíduos produtivos, cuja capacidade e autonomia são “compradas”, ao invés de se propiciar sua inserção no mercado de trabalho. E nem estamos falando da origem dos recursos que os mantém, o que certamente nos levaria a outros inúmeros debates.

A gravidade do fenômeno não se encontra tanto em seu caráter iminente, mas no exacerbamento do corporativismo do partido oficial, o qual tem-se assistido ultimamente concedendo o “perdão oficial” do governo aos infratores, desde que estes sejam “do PT”, ou através da utilização particularizada das instituições e bens públicos.

O conceito de “PÚBLICO”, aliás, é tratado de forma muito peculiar, e canhestra, por este governo – para eles “público” é algo “do governo”, ou seja, deles que ora ocupam o governo – diferente portanto do real significado do termo – aquilo que é de TODOS.



Exacerbamento esse que se constitui num verdadeiro “fechamento social” – um movimento para “cerrar as portas do baile aos que nele ainda não ingressaram” e, caso consumado, a sociedade brasileira poderá atravessar o século XXI inteiro tentando chegar ao patamar atingido na Revolução de 64, quando igualmente na História recente se viu a desconstrução dos pilares da democracia pela esquerda, abrindo campo para o golpe militar.

Chegaremos então a triste conclusão, ao final do século XXI e no limiar do século XXII, que somos o “Coelho de Alice” – corremos desesperadamente para chegar ao mesmo lugar.


(Final)

22 março 2006

“VAI PROCURAR ALGUÉM DO SEU TAMANHO...”




Mesmo admitindo que a “situação está mal” com as recentes denúncias contra o Ministro Antônio Palocci, Lula ainda demonstra estar disposto para a briga: “Um Presidente da República não pode responder a todas as ofensas e ataques. Mas quem me conhece sabe que eu gosto de uma briga, adoro uma briga” – afirmou durante visita a um canteiro de obras do metrô de Salvador.

Tudo bem que ele queira brigar, mas deveria “procurar alguém do seu tamanho”, como se diria nos meus áureos tempos de infância. Pois a “briga” a qual se refere é contra um caseiro – o Francenildo – o que parece tornar a contenda extremamente injusta e desproporcional.

No mesmo palanque, e como ele gosta de um palanque, Lula afirmou que existe político que só sabe fazer política "falando mal do outro" (sobre isso o partido dele sabe tudo). Disse ainda que o povo não quer saber de "baixo nível" e "xingatório"(procurei em dois dicionários mas não encontrei o significado do termo) e sim se o político está fazendo alguma coisa para o povo.

Ora, então o que ele está fazendo ali naquele palanque? Por acaso algo que o “povo” precise?

Como se diria naqueles idos tempos de nossa infância: - “Ô lula, vai procurar alguém do seu tamanho!”

21 março 2006

EXCLUSÃO SOCIAL - O NOVO MODELO

2ª PARTE – DESIGUALDADE, POBREZA OU EXCLUSÃO?



No Brasil é comum se confundir termos estruturantes do tema das iniqüidades sociais – desigualdade, pobreza e exclusão.

O conceito de desigualdade social refere-se a distribuição diferenciada, numa escala de mais para menos, das riquezas materiais e simbólicas produzidas por determinada sociedade entre seus integrantes.

Pobreza, por sua vez, significa a situação vivida pelos membros despossuídos de determinada sociedade, os quais não possuem recursos suficientes para viver dignamente, ou que não tem condições mínimas de suprir suas necessidades básicas. A pobreza é a qualidade daquele que, num quadro de desigualdade social, encontra-se na base, ou seja, destituído materialmente dos bens simbólicos de riqueza naquela sociedade.

Sendo assim, conceitos próximos mas distintos, é que podemos ter sociedades onde se verifique uma desigualdade social mas seus integrantes não são pobres, o que é pouco comum. Por outro lado podemos encontrar sociedades igualitárias onde a maioria dos cidadãos viva num estado de pobreza, a exemplo de alguns países africanos.
Desigualdade e pobreza são conceitos diferentes entre si, como já vimos, mas igualmente distintos do de exclusão social. O conceito de exclusão social está mais próximo, como oposição, do de coesão social ou, como sinal de ruptura, do de vínculo social.

A condição de excluído lhe é imputada do exterior, pura e simplesmente, sem que para isso ele tenha praticado qualquer ação ou mesmo tenha contribuído direta ou indiretamente para o processo.

A exclusão social pode ocorrer como resultado de uma rede de rupturas dos vínculos sociais, sejam eles econômicos, familiares, afetivos, religiosos ou trabalhistas. O termo exclusão pressupõe um não-reconhecimento como igual, seja de um indivíduo, seja de um grupo. Na Europa, por exemplo, uma de suas manifestações pode ser representada pela forte xenofobia que se abate sobretudo sobre os imigrantes africanos e árabes; já no mundo árabe são bastante difundidas as exclusões de grupos étnicos ou religiosos, às vezes dentro do mesmo país. Ainda hoje temos viva a lembrança dos ataques violentos ocorridos na Grã Bretanha entre irlandeses e ingleses, por conta de uma fortíssima exclusão religiosa.

Existem três acepções características do termo exclusão social, mas o Brasil está querendo inserir mais uma nesse contexto.

A primeira é decorrente do conceito de anomia, ela se aproxima do de discriminação racial – contra negros ou nordestinos; ou discriminação sexual – contra homossexuais; ou ainda religiosa – contra umbandistas ou evangélicos. Ela é uma forma genérica de exclusão, pois seus indivíduos, embora não excluídos formalmente de direitos, suas diferenças não são toleradas pela maioria, confundindo seu conceito com o de estigma e/ou desvio.

Na segunda o não-reconhecimento se traduz numa clara exclusão de direitos. São grupos sociais à margem da sociedade – trabalhadores pobres e subempregados, biscateiros, mendigos – que não têm uma clara integração no mundo do trabalho, não estando portanto amparados pela rede de proteção social do Estado – educação, saúde, previdência – e assim vivem sem conseguir a sua inserção social.
Estigmatizados como os anteriores, embora por diferentes razões, sofrem o processo específico de não ingressarem no “mundo dos direitos” ou simplesmente dele serem expulsos, parcial ou totalmente, como no caso dos “desempregados crônicos”.

Uma terceira acepção sublima o não-reconhecimento formal de determinado indivíduo ou grupo social para simplesmente vedar-lhes o “direito a ter direitos”. A negação neste caso é o reconhecimento como semelhante e a tendência é expulsá-los da órbita da humanidade, pois passam a se constituir um “estorvo social” e, portanto, passíveis de eliminação física – como os índios em Brasília, os meninos de rua na Guatemala e no Rio de Janeiro, os homossexuais em algumas cidades do país, ou os mendigos e moradores de rua de São Paulo.

Dessa forma, posto o problema, passamos a entender que pode ocorrer exclusão social sem que haja desigualdade social (entendida como a distribuição diferenciada de riquezas); assim como não é necessário haver pobreza – incapacidade de suprir as próprias necessidades básicas – para que ocorra aquele fenômeno. Embora possam existir de forma íntima numa mesma sociedade, também se aplicam isoladamente conforme pudemos verificar.

Propositalmente deixei de citar a quarta acepção da expressão exclusão social – o “nosso modelo” – mas isto, me permitam, deixarei para a próxima palestra.


(a seguir: Os neo-excluídos "made in Brazil")

19 março 2006

EXCLUSÃO SOCIAL - O NOVO MODELO

1ª PARTE - A EVOLUÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS






As lutas sociais pela inclusão características das décadas de 20 e 30, assim como o processo de sindicalização dos anos 50 e 60, há muito deixaram de representar o lócus mais visível do processo de exclusão social no Brasil.

Até então os movimentos sociais eram oriundos de uma agregação de indivíduos que buscavam sua inclusão, seja política, seja econômica, utilizando-se coletivamente do “poder das massas” para reivindicar. Eram movimentos “quantitativos” onde o poder de barganha era tanto maior quanto o número absoluto de participantes. Evoluem também, de forma pontual, para movimentos “qualitativos”, onde o foco passa a ser o setor produtivo e não o número de participantes; nesse mister o setor energético sempre foi de vital importância para a economia e a sociedade, sofrendo fortes influências dos “ativistas profissionais”, aqueles cuja função, alheia à causa, é a de influenciar e controlar determinado grupo social.

A partir da década de 80 ingressamos na era da “fossilização da estrutura social”, com a perda crescente do movimento ascensional da mobilidade social. Entramos no modelo econômico de aguda dependência global, com pagamento de altos juros pela dívida externa, internacionalização de nossas empresas e uma busca sôfrega por investimentos externos, pois deixou de existir a poupança interna e a capacidade de investimento por parte do setor público.

A fossilização da estrutura social é evidente quando se verifica, após algumas décadas, que “o rico fica sempre mais rico, e o pobre cada vez mais pobre”, independentemente do que se faça, ou que se poupe, jamais se modificam as posições na pirâmide.

Este processo avançou muito na chamada “Nova República”, adentramos na esteira acelerada da inovação tecnológica e da competitividade empresarial, gerando o desemprego estrutural e tecnológico.

Aderimos à hegemonia neoliberal – sem jamais termos sido sequer liberais – encolhendo o Estado através das privatizações de empresas públicas, reduzindo os investimentos nas políticas sociais e incentivando a cultura da concorrência e da competição.

Paradoxalmente foi inaugurada a “era da estagnação econômica”, abandonando as históricas taxas de crescimento de 7,5% ao ano para habitarmos os medíocres 2%. Tal como o Coelho de Alice, o país corre apressadamente para não sair do lugar; ou ainda, moderniza-se para se tornar mais injusto.



( a seguir: Desigualdade, Pobreza ou Exclusão? )

17 março 2006

AS DITADURAS NO BRASIL – 2ª PARTE



Em 1964 um novo golpe de estado, liderado por militares, toma o poder do Presidente João Goulart, que é deposto, e implanta-se uma ditadura com a nomeação de uma Junta Militar para governar o país; todos os direitos políticos são restringidos e os partidos comunistas são extintos, o Congresso é fechado e os direitos e garantias individuais são sumariamente abolidos.

Este período será conhecido, mais tarde, como os “anos de chumbo” e caracterizou-se por perseguições políticas e forte controle social impostos pela Polícia e pelo Exército.

Curiosamente, a exemplo da ditadura Vargas, foi o período em que a sociedade brasileira obteve as maiores conquistas sociais da história republicana, como nos relataria Wanderley Guilherme dos Santos (Cidadania e Justiça, 1979):


“Marcante na evolução brasileira, todavia, é o fato de que os períodos em que se podem observar efetivos progressos na legislação social coincidem com a existência de governos autoritários. Os dois períodos notáveis da política social brasileira identificam-se, sem dúvida, ao governo revolucionário de Vargas e à década pós-1966.”



A década de 80 traria de volta a democracia, após um movimento nacional denominado "Anistia ampla, geral e irrestrita"; assim, com a chamada “Nova República”, desde então e até os dias atuais não se teve no país um regime ditatorial; contudo vale dizer que tal conclusão refere-se apenas ao campo político.


Se considerarmos a esfera econômica poderíamos dizer que os dois períodos de governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, pela recessão e forte retração da economia imposta a título de “controle da inflação” através do Plano Real, podem se caracterizar uma “real ditadura econômica” tendo em vista as sucessivas perdas salariais dos trabalhadores, os sete anos sem aumento dos funcionários públicos, o arrocho sobre os professores, enfim a classe trabalhadora de um modo geral sofre esta verdadeira “ditadura econômica”.

Lula assume em janeiro de 2003 e mantém a ditadura econômica de FHC, através do Ministro Palocci, entretanto aparelha o Estado com milhares de nomeações e institui a “contribuição obrigatória” (o valerioduto) das empresas para a “causa” – o projeto de perpetuação no poder, contingencia o orçamento, aplicando ínfimas parcelas das verbas destinadas a proteção social – educação, saúde, segurança e infra-estrutura, concede 0,01% de reajuste ao funcionalismo, taxa os aposentados em 11% ignorando cláusulas pétreas da Constituição Cidadã, compra o parlamento despudoradamente e manieta o judiciário com nomeações.

Tantas pessoas a “sangrarem” os cofres públicos resultou num total descontrole do projeto, cujo eixo era mantido a “mãos de ferro” por José Dirceu, como se viu a partir das denúncias de Roberto Jefferson (este sim, um “esfaqueado nas costas”).

A evisceração da crise, devido a sua abrangência e alcance, transpareceu como uma cutucada num ninho de vespas, com ataques raivosos por todos os lados e a compreensível, mas não justificável, irritação daqueles que tiveram seus esquemas desnudados perante a nação.

Lula, o “nosso” Macunaíma Gump, tal e qual um autista, preferiu o contra-ataque do discurso reacionário contra as “elites”, para a seguir se voltar para as camadas menos informadas da população e reatar a “campanha eleitoral”, da qual tirara “pequenas férias”, mas jamais havia abandonado.

A atual ditadura é mais perigosa que as anteriores, pois além de todos os ingredientes políticos destas, embute o revanchismo e a desconstrução de instituições basilares do regime democrático – o Parlamento e o Judiciário.

É perigosa porque destrói os alicerces da democracia, privilegia o grande capital, os banqueiros, enquanto paralelamente “arrocha” a classe média criando um “nivelamento por baixo”, ao mesmo passo em que amplia a “esmola oficial”, e gera uma população dependente e submissa socialmente ao “soberano”.

É o mais puro despotismo.

(espaço aberto para discussão)

15 março 2006

AS DITADURAS NO BRASIL - 1ª PARTE


O presente editorial visa apresentar uma visão abrangente, e ao mesmo tempo sintética, dos períodos ditatoriais vividos no Brasil, em atenção àqueles leitores que valorizam a História como aliada.

O texto será apresentado sob uma forma narrativa e em dois capítulos, tendo sido selecionado o período republicano como universo de pesquisa.

Os primeiros anos da república no Brasil, chamada de República Velha, foram conturbados. Realmente não era fácil realizar-se a transição de um regime monárquico para uma república representativa. As dificuldades surgiram logo nos dois primeiros anos, quando se instalou o Governo Provisório, liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, o qual adotou como principais medidas: o federalismo, a separação entre Estado e Igreja, os Três Poderes da República, uma grande naturalização, a bandeira da República e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte para a elaboração da Nova Constituição da República.

Com a eleição do próprio Deodoro da Fonseca em 1891 para Presidente, tendo em vista forte oposição da oligarquia cafeeira de São Paulo, podemos dizer que foi implantada uma ditadura pois o Congresso foi dissolvido e seus parlamentares presos. Aí tivemos a 1ª quebra da democracia, a qual não durou muito tempo pois Deodoro da Fonseca, sem apoio e tendo contrariado a Constituição, não resistiu às pressões e renunciou em favor do vice Floriano Peixoto, conhecido como o “Marechal de Ferro” que sofreu várias revoltas em seu governo, dentre elas a 2ª Revolta da Armada e a Revolução Federalista do Rio Grande do Sul.

Seguiram-se os governos civis de Prudente de Morais e Campos Sales onde a república conheceu o poder das oligarquias, tendo esse período, e os seguintes, recebido a denominação de “república do café com leite”, onde o poder alternava-se entre os Partido Republicano Paulista (café) e Partido Republicano Mineiro (leite). A partir daí até 1930 essas oligarquias, através de seus representantes, governaram o país impondo aos trabalhadores regimes de trabalho duríssimos, fortemente impregnados das práticas colonialistas do Império e da escravidão. Não haviam contratos fixos de trabalho, as jornadas prolongavam-se por até 15 horas diárias, não havia seguridade social, tampouco planos de aposentadoria.

A partir de 1923 até 1930 começam a surgir movimentos trabalhistas, iniciados pela mão de obra dos imigrantes europeus que eram preferidos pelos patrões em detrimento do trabalhador nacional. Este, o nacional, era rotulado como preguiçoso, beberrão, revoltado e indolente, sendo considerado inútil para o trabalho. Como diria Lúcio Kowarick (Trabalho e Vadiagem, 1987):



“ Tanto é assim que, em plena crise do trabalho servil, a grande imprensa afirmava que:’...os ex-cativos, como a maior parte dos caipiras, fogem ao trabalho. Se vão para as fazendas como camaradas, poucos dias param. São excessivamente exigentes, morosos no trabalho, param a cada momento para fazer cigarro e fumar, nas horas das refeições demoram-se indefinidamente, bebem, poucos se sujeitam a fazer um feixe de lenha...”



O nacional (caipiras e ex-escravos) era desvalorizado como mão de obra; os “senhores fazendeiros” preferiam os imigrantes brancos europeus, aparentemente mais dóceis e fáceis de lidar, entretanto foram estes que iniciaram os sindicatos e o “movimento anarquista”. Tudo desemboca na Revolução de 1930 e a ruptura com as oligarquias.



O Brasil conheceria então, já a partir de 1937, após um golpe de estado, o período ditatorial de Getúlio Vargas (Estado Novo) que iria até o fim da 2ª Guerra Mundial (1945). Curiosamente foi um período de grandes conquistas sociais dos trabalhadores nacionais. Diversos institutos de aposentadoria e pensões são criados, as leis trabalhistas são promulgadas e aquele nacional indolente e beberrão é valorizado como mão de obra tendo em vista a expansão industrial que se configurou no país.
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943 representou um marco na história do trabalhismo brasileiro.

Com o fim do Estado Novo (período ditatorial de Vargas) o Brasil volta à democracia. Nos anos 50 vive-se a “febre da civilidade”, todo mundo queria ser civilizado, seguindo movimento europeu do pós-guerra.

As capitais do sudeste são o objeto do desejo de nordestinos, capixabas e nortistas. As cidades não estão preparadas para receber, a cada mês e a cada ano, tamanho contingente de famílias que aqui desembarcam em “busca da felicidade”, do emprego urbano e da melhoria de vida. O êxodo rural e o movimento migratório para o Rio e São Paulo são conseqüências da precarização do trabalho agrícola ocasionado pela queda da exportação desses produtos e a política de “industrialização” interna do governo Vargas.

(continua...)

13 março 2006

AS FACES VIS DO “PUDÊ”


A conhecida “Lei de Gerson”, uma daquelas “leis que pegam”, aqui nós temos este fenômeno: "leis que pegam" e "leis que não pegam", capilarou-se durante anos nas entranhas da sociedade brasileira e foi amadurecendo junto com seus seguidores, então jovens na época de sua “promulgação”, e hoje mostra suas diversas faces: elas são o somatório das “sonegaçõeszinhas”, dos “suborninhos”, dos “desviozinhos de verbas", das “molhadinhas de mão”, das “cervejinhas”, das espertezas, das vigarices em todas as escalas, enfim, de tudo aquilo que sabemos ser errado, segundo padrões culturais, morais e éticos que nos ensinaram nossos pais e avós, mas que praticamos “quando ninguém está olhando”, sabe como é, né? Afinal é só um pequeno delito, “todo mundo faz, porque eu não vou fazer também?”

Apenas um “erro” como o “nosso” Macunaíma Gump prefere nominar. Ele, aliás, o arquétipo da esperteza nacional.

Conforme diria Maquiavel ao não acreditar que humanos fossem animais políticos; humanos são egoístas e só se aproximam de outros para obter vantagens, seja isoladamente ou em grupo, como uma alcatéia. No mundo de Maquiavel a ética não é fundamental, e o espaço humano é de predação. Uns tomam dos outros.

Ocorre que os bens de prazer são limitados, estamos no “mundo da escassez”, como disse Hobbes, e as ferramentas para obtenção do prazer vão desde a caneta ao fuzil AR-15, ambas são faces vis do “pudê”. A primeira tem o arcabouço da legalidade sob a forma de um cargo público, onde o dignitário se apropria do que é público (de todos) para benefício próprio ou de um determinado grupo de apaniguados; o segundo, sem o apego às normas daquela sociedade e sem sofisticação alguma, numa vertente mais cruel denominada “violência”, busca o seu quinhão de “pudê” através da força e assim domina um território e/ou fatia de mercado para também obter o seu prazer e o de seus apaniguados.

A vilania do “colarinho branco” e a do “capuz”.

O que assistimos hoje perplexos é o crescimento da “quimera” que alimentamos nos últimos 30 anos, seja com a nossa indolência, seja com a permissividade ou o nosso apoio, e que agora, qual uma “bolha assassina” cresce, nos amedronta e nos faz refletir: “onde nós erramos?”

Agora não tem “jeitinho”, não é Gerson?

11 março 2006

RECORDAÇÕES E REFLEXÕES

Diante de tanta corrupção praticada nos governos tidos como democráticos, de José Sarney (Murad e outros), de Collor de Melo (PC Farias e outros), de Itamar Franco (Hargreeves e outros), de Fernando Henrique (Serjão e outros) e de Lula (Delúbio, Dirceu, Palocci, Silvinho, Genoíno e outros tantos), emerge um questionamento comparativo com os anteriores governos militares, senão vejamos: quem se lembra de um General Presidente que tenha ficado rico?

  • Castelo Branco deixou apenas uma modesta casa em Fortaleza e seu soldo de General como herança;

  • Costa e Silva deixou o apartamento que já possuía (recebido por herança) no Leblon e seu soldo de General;

  • Garrastazu Médici deixou um apartamento no Rio e um sítio no Rio Grande do Sul, que possuía desde antes de 1964, e seu soldo de General;

  • Ernesto Geisel deixou sua casa em Teresópolis e seu soldo de General, apesar de ter sido também o presidente da Petrobrás;

  • João Baptista Figueiredo deixou um apartamento no Rio e um sítio em Nogueira, sendo ambos adquiridos antes de 1964.




Quase todos eles, após serem substituídos, viveram muito modestamente com seus soldos e recolhidos ao convívio familiar, exceto Castelo Branco que morreu num acidente aéreo em 1967 e Costa e Silva que morreu de derrame cerebral.

O Brasil progrediu velozmente durante o regime militar, chegando a crescer 60% durante o governo Médici; as expensas, forçoso dizê-lo, de um progressivo endividamento externo, pois o país não estava estruturalmente preparado para crescer tanto.

Os crimes que existiam eram assaltos a bancos, assassinatos de militares, policiais, bancários e seqüestros de embaixadores (praticados pelas guerrilhas urbana e rural financiadas por Cuba, cujos protagonistas encontram-se hoje, ou já estiveram, no poder), além dos crimes passionais.

Não se tem notícias da existência do narcotráfico e nem das guerras dos traficantes naquela época. O Brasil era rota, mas não mercado da droga. Existiam furtos, mas não assaltos a mão armada, exceção feita nos casos dos bancos, que merecessem um mínimo de destaque.

Curiosamente o período do regime militar foi aquele em que mais aumentou a "rede de proteção social" da população, o que pode soar de forma paradoxal para alguns, mas foram fundados o MOBRAL, o FUNRURAL, o BNH, a FUNAI, a SUDAM e a SUDENE, foi implantada a MERENDA ESCOLAR em TODAS as escolas do Brasil e nas indústrias no Norte/Nordeste, a criação do FGTS e do INPS.

Não há nenhum outro programa governamental de cunho social nos regimes tidos como democráticos, que tenha atingido a tantos milhões de brasileiros como cada um destes, preservando a dignidade do necessitado, sem o cunho humilhante do assistencialismo eleitoreiro e da "esmola".

Não há que se reeditar o Golpe Militar para se dar um basta no atual quadro de corrupção e desmoralização da República que os governos ditos “de esquerda” insistem em impor ao sofrido povo brasileiro, mas sem dúvida há que se refletir quais foram os motivos que levaram as Forças Armadas a assumirem o comando da nação em 1964, em defesa da soberania nacional e do povo brasileiro, e se estes já não estão sobejamente suplantados com os atuais desmandos praticados por estes “democratas”.

O assunto é polêmico e tido como “tabu” ainda hoje nos meios acadêmico, jornalístico e político, onde ninguém se atreve a apoiar claramente uma ação de tal natureza; contudo a mesma ojeriza que a “esquerda” brasileira tem pelos militares a população tem hoje pela classe política. Motivação, portanto, não falta. AÇÃO? Sim.

Entretanto são apenas recordações, e como tais voltam a povoar nosso ideário nesses tempos nebulosos.

08 março 2006

A ESQUERDA E A DIREITA, O ALTO E O BAIXO, O GORDO E O MAGRO...

Existem as mais variadas opiniões sobre uma tendência que tem se verificado na América latina denominada de “esquerdização”. Sob essa alcunha são reunidos, num mesmo invólucro, regimes totalmente díspares como o chileno, o boliviano, o brasileiro e ainda o venezuelano, porém alguns de seus líderes vestem o manto esquerdista como se encarnassem o mito bolivariano, tão propalado por Chavez. Ocorre que nada têm em comum, exceto algumas tendências populistas no caso do Brasil e da Venezuela, onde Lula e Chavez se afinam na geração de uma população de “dependentes sociais” de seus governos com a implantação de políticas públicas como o “Bolsa-Família” e o “Mercado do Povo”.

Estranhamente buscam um ideal que tem como ícone Guevara, cujo sonho se realizou em Cuba, país que se caracteriza por um regime autoritário; ditatorial até, e portanto totalmente canhestro aos ideais de nossa sociedade que depois de 25 anos de uma ditadura militar, obviamente não fez sua opção por outra, só pelo fato de ser, digamos assim, “de esquerda”.

O “paraíso” cubano não admite opositores ao “regime”, aqueles que ousam tal empreitada são fuzilados, como o são aqueles descontentes ou insatisfeitos que porventura tentem deixar o país-ilha (ou ilha-prisão?).

Por outro lado o caso boliviano em nada se assemelha com o chileno, por exemplo. Evo Morales, um líder de origem indígena como a maioria da população, mistura um comunismo primitivo com velhas teses da esquerda autoritária de Chavez e Fidel. Um mito latino-americano, o líder popular, “raiz da terra”, como se os problemas da Bolívia pudessem ser resolvidos por essa retórica esquerdista. O “Estado” para Morales deve ser o “grande provedor” de bens e serviços para o povo. Uma forma de governo anacrônica e obsoleta derivada da teoria do utilitarismo de J. Bentham, um “mais-Estado”, com a conseqüente precarização do trabalho assalariado como forma de inclusão social. Já com Michelle Bachelet, no Chile, observa-se uma tendência para um liberalismo econômico, mais adequado a teoria de Locke ou “neoliberal”, como preferem nominar os integrantes do MST.

Acontece que o Chile, há alguns anos, vem crescendo a taxas de 6% enquanto os demais países ditos “de esquerda”, mas populistas, derrapam nas falas enganosas e eleitoreiras de seus governantes e vêm nesta última década enganando seu povo e obtendo taxas de crescimento pífias, quando não negativas.
O regime chileno seria uma liberal-democracia, de cunho socialista pelos matizes sociais que expõe, mas essencialmente um liberalismo de mercado, que permite a livre iniciativa e o crescimento da produção. Bastante parecido portanto com o modelo francês, apenas para citar um exemplo europeu de regime esquerdista que deu certo. No Brasil, para fazermos uma comparação, assemelhar-se-ia a uma aliança entre o PSDB e o PFL.

Na Venezuela, por exemplo, nem pensar em livre iniciativa, lucro e crescimento da produção, pois aqueles empresários que assim agirem tornam-se, por lei, “inimigos do povo” tendo seus bens e empresas confiscados pelo governo.
Morales ainda não teve tempo de agir assim, mas já demonstra sua “visão de governo” quando encampa empresas estrangeiras que exploram riquezas minerais em solo boliviano.

Assim sendo não devemos legar à vala-comum o chamado “processo de esquerdização” da América latina, pois nuanças e divergências existem entre cada país e cada governante.

Aliás, como já declarei anteriormente, não me apego a estas expressões dicotômicas para adjetivar governos, tão somente pelo “ranço” que elas contém.

Mas, forçoso dizê-lo, tudo neste mundo tem, pelo menos, dois lados: a direita e a esquerda; o alto e o baixo; o dia e a noite; o gordo e o magro; a mentira e a verdade...

06 março 2006

ATÉ QUANDO?



O muro de Berlim caiu em 1989, o que, para muitos, representou o fim da luta entre capitalismo e comunismo. Para grande parte da esquerda, entretanto, a ficha ainda não caiu, ainda que tantos anos tenham passado essa gente continua apegada a suas idéias ultrapassadas, sem perceber que o mundo todo mudou – e muito – desde o último século, persistindo nesse anacronismo insano.


Ao contrário do que acontece com as idéias da “esquerda”, o pensamento conservador, liberal, neoliberal, ou seja qual rótulo se prefira dar, teve um tremendo desenvolvimento desde a metade do século XX, e ganhou um impulso adicional nos tempos em que Ronald Reagan esteve à frente da presidência dos Estados Unidos.


Hoje, está claro para quem tem um mínimo de honestidade intelectual, que liberdade política e livre mercado são a melhor receita para que um país alcance desenvolvimento econômico e qualidade de vida.
Basta analisar com um pouquinho de bom senso e isenção política a realidade para perceber que idéias como “redistribuição de renda”, “igualdade social forçada”, “lutas pela terra” e “entraves à criatividade individual e a livre iniciativa” em nada contribuem para a melhoria da vida de ninguém. Ao contrário, são parte das razões que fazem o Brasil ter um crescimento econômico pífio, superando apenas o Haiti.


Os impulsos de modificar o mundo através da engenharia social e a tentativa de criação de um “novo Homem” foram responsáveis por muito sofrimento e por milhões de mortes num passado que, graças a Deus, já vai ficando distante. A União Soviética e seus “gulags”, Mao Tsé Tung e sua “revolução cultural” e aberrações como Pol Pot e suas matanças no Camboja são, neste novo milênio, tristes lembranças e um alerta para as futuras gerações.


Faz muito tempo que a esquerda não tem idéias. Sua cartilha ainda é a mesma do início do século passado. Alguns políticos socialistas em países europeus ou no Chile, por exemplo, têm obtido sucesso na condução de seus países, mas a verdade é que só o fizeram porque adotaram (ou mantiveram) a maior parte das receitas de seus antagonistas de direita.


Para ficar num só exemplo, basta pensar em Tony Blair à frente do governo britânico. Não é à toa que o Reino Unido continua crescendo, enquanto países como França e Alemanha estão estagnados. Não é à toa, ainda, que uma política como Angela Merkel – bastante conservadora para os padrões da Europa – esteja no poder na Alemanha.Mesmo os “paraísos socialistas” do norte da Europa, como Suécia, Finlândia ou Dinamarca, já não são mais os mesmos. Governos socialistas ou social-democratas, em todos os lados, estão colocando limites cada vez mais severos aos excessos do “welfare state”, reduzindo impostos e entraves burocráticos à livre iniciativa.


Nos Estados Unidos, apesar de toda a antipatia de expressiva parcela do público ao presidente Bush, o partido Democrata vem patinando há anos tentando recuperar o terreno que perdeu para os conservadores.
Nada funciona, eleição após eleição e o último progressista foi o polêmico Bill Clinton, que nunca teve a menor vergonha de apoderar-se das boas idéias da direita e apresentá-las como suas.


No Brasil, nossos intelectuais e a maioria dos políticos ainda são prisioneiros das emboloradas idéias coletivistas, ainda não conseguiram deixar para trás as amarras de conceitos ocos como “justiça social” ou “participação popular”. O fracasso do “lulismo”, contudo, deverá ser um bom ponto de partida para uma necessária revisão de conceitos.


A eleição que se aproxima pode ser, finalmente, o momento do “basta” para o eleitorado brasileiro.


Caso contrário teremos que aturar... até quando?

04 março 2006

EM BUSCA DA VERDADE PERDIDA ( OU NUNCA ENCONTRADA )


A construção da verdade é um assunto muito controverso. Hoje em dia vemos inúmeras pessoas se referindo ao tema, de forma apaixonada, como se pudessem “resgatar” algo que historicamente jamais existiu, a “VERDADE VERDADEIRA”.

Mas que pleonasmo é esse? Existiria porventura uma “VERDADE MENTIROSA” que se oporia a ela?

Ocorre que desde os primórdios da convivência humana em sociedade os estudiosos e pesquisadores tentam elaborar “a receita do bolo”, mas até hoje não se uniformizou uma fórmula que produza uma VERDADE única ao final do processo.
Isso significa dizer que os processos de construção da verdade tiveram uma evolução histórica e foram sendo adequados pelos governos, de acordo com cada cultura, a partir da avocação pelo Estado do monopólio da justiça. Assim podemos dispor três formas de produção da verdade:

  • a revelação divina

  • o inquérito

  • o exame


Na primeira, encontrada na sociedade grega arcaica, a pressuposição é a existência apenas de dois personagens, onde a verdade era obtida através do sistema da prova legal, consistindo no enfrentamento entre o acusador e o acusado, numa luta ou num jogo, onde o monarca apenas estabeleceria as regras da disputa.

Nesse sistema os fatos são irrelevantes, relevante é o método da disputa para a produção da verdade e ao final o vencedor, por obra divina, era revelado o detentor da verdade. Essa forma também se verifica na Alta Idade Média e no Antigo Direito Germânico.

Na produção da verdade pelo sistema da prova legal não havia ação pública, ou seja, ninguém, além dos envolvidos, poderia deflagrar o processo; quem não já leu algum livro ou já viu algum filme sobre os famosos duelos ou contendas?

Em segundo lugar, uma vez iniciada a ação penal, pela declaração de um indivíduo que julgasse haver sido lesado por outro, a ação tinha prosseguimento numa espécie de guerra particular entre os dois e doravante o direito regularia apenas as normas da disputa, uma forma regulamentada de promover a guerra entre as partes.

Finalmente havia a possibilidade do acordo, da transação, mesmo após o início da disputa. Para tanto os dois oponentes, acordados entre si, elegem um árbitro que estabelece um valor pecuniário como resgate - não para resgatar o dano ou o crime praticado, mas um valor pela vingança, que se tornara o objeto da disputa.

O sistema de produção da verdade por inquérito, representado na obra de Sófocles – “Édipo-Rei”, o assassinato do Rei Laio é investigado a partir de uma nova figura – o pastor testemunha – que através do seu depoimento traz nova dimensão à produção da verdade.

Durante a Inquisição Eclesiástica a Igreja também se valeu do sistema do inquérito, na Idade Média, para a produção da verdade – inquisitio generalis e inquisitio especialis.
O Santo Ofício institui a confissão como um tipo de “requisito para salvação da alma”, uma vez que o corpo pagaria de qualquer jeito.

Um curioso método de obtenção da verdade durante o período do Santo Ofício consistia em atirar a ré, acusada de bruxaria, com os pés e mãos atados num tanque cheio d’água; se ela morresse afogada teria a remissão dos seus pecados, mas se porventura conseguisse se livrar das cordas e do afogamento estaria comprovado seu “pacto com o demônio” e ela seria então condenada à fogueira.

O sistema inquisitorial eclesiástico não se aplicaria às faltas comuns entre os indivíduos, mas tornar-se-ia mais abrangente socialmente, alcançando todas as camadas sociais, por atingir os hereges.

Materializava-se através da visitatio - o bispo percorria a diocese e ao chegar a cada vilarejo promovia uma inquisitio generalis – que visava descobrir o que havia acontecido no lapso temporal entre cada visita, para inteirar-se de todo o ocorrido; caso algum fato merecesse atenção era promovida uma inquisitio specialis – a qual visava descobrir seu autor e a natureza do ato. A tortura física é a materialização do método de obtenção da confissão, esta como expiação da alma, uma vez que o corpo físico já fora condenado e a confissão seria buscada até mesmo depois de prolatada a sentença.

Finalmente o sistema de produção da verdade por exame tem origem no século XIX na Inglaterra com o surgimento do trial by jury , um julgamento pelos pares onde quem viu não pode julgar e tudo tem que ser construído perante os juízes: EVIDENCE – FACT – PROOF. A construção da verdade se baseia na entrevista e o sistema pressupõe a disciplina e não a repressão.

Na entrevista a verdade é construída, o entrevistador não a conhece e busca construir uma verdade em cumplicidade com o entrevistado. O juiz delibera sobre as regras de exclusão – exclusionary rules – ou seja, aquilo que poderá ou não ser negociado entre as partes e o sistema tende a produzir uma normalização na sociedade.

Sendo a busca da VERDADE uma obsessão tão antiga da Humanidade, como poderemos descobri-la sem a subjetividade das evidências e do convencimento pessoal de cada um ?

E assim o que mais precisa ser provado para levar aos tribunais todos os envolvidos nesse mega-escândalo de corrupção que grassa os poderes da República?

De nada adianta querer reinventar a roda.

02 março 2006

UMA BOFETADA COLETIVA

Estamos vivenciando um fenômeno bastante curioso sob o ponto de vista sociológico a partir da evisceração da crise que se arrasta por longos nove meses.
Do seu início, após as denúncias do então Deputado Federal Roberto Jefferson a um jornal, deflagradas em resposta a uma matéria veiculada em rede nacional de televisão onde um funcionário dos Correios recebia “uma graninha” (“módicos” R$ 3.000,00), de dois empresários que concorriam em processo licitatório, até os episódios da sessão do Supremo Tribunal Federal que tentava julgar mais um Mandado de Segurança do Deputado Federal José Dirceu, a última sessão plenária do Senado Federal de 2005 onde “partidos de oposição” se propunham a obstaculizar a votação do Orçamento Anual condicionando-o ao julgamento político pela Câmara do processo daquele parlamentar, assistiu-se a inúmeras agressões ao ideário de um povo que um dia pensou que “a esperança tivesse vencido o medo” e ao escárnio sobre os que divergiram desse pensamento no pleito de 2002.

Quem imaginou que a sem-vergonhice tinha acabado ali se enganou de forma retumbante: ainda assistiríamos aos “habeas corpus” preventivos e as liminares do STF contra a quebra do sigilo dos fundos de pensão e do “amigão” Paulo Okamoto; aos depoimentos bombásticos da CPI dos Bingos e a entrevista do presidente ao jornalista Pedro Bial, além de tantas outras fanfarronices e declarações debochadas de nossos políticos e principalmente do “alienado-mor” – aquele que nada sabe: o “ONI-AUSENTE”.

Nem aqueles não eleitores do PT tinham noção, naqueles últimos dias de maio e início de junho do ano passado, que o Brasil sofreria tamanha transformação social, em face da indignação e revolta que se fez sentir nos corações e mentes da população como um todo, posto que as sucessivas denúncias de corrupção e aparelhamento do Estado brasileiro começaram a se mostrar evidentes com o início e comprovadas com o aprofundamento das investigações. Mas o pior ocorreu com aqueles que acreditaram e votaram no PT. Estes receberam, permitam-me a utilização do termo, “uma bifa” que os deixou desnorteados. Seu poder de recuperação não foi uniforme, mas do “CTI” a grande maioria já saiu, contudo está muito difícil reconhecer o erro ao qual foram induzidos, seja por uma estratégia de marketing eficaz e poderosa, seja pela tibieza de seus oponentes que não possuíam as mesmas “armas” para equilibrar tal disputa.

Difícil sim, recuperar-se de tal traição – este o termo correto – que arrebatou o imaginário de mais de 53 milhões de brasileiros com uma promessa de “ser diferente” e se mostrou pior que seus antecessores, e todos sabemos em nosso íntimo como é constrangedor reconhecer um erro, como nosso inconsciente é crítico na hora do julgamento de “nós mesmos”, o “nosso supremo tribunal” é implacável.

Culturalmente o Brasil é o “país do jeitinho”, um notável dirigente francês em visita a nossa terra declararia sua observação deste fenômeno social brasileiro; consolidado na década de 70 pelo ex-jogador de futebol tri-campeão Gérson, a qual ficou nacionalmente conhecido como “Lei de Gerson” (impropriamente atribuída ao atleta devido a uma propaganda de cigarros da época).
Vale tudo para se obter vantagem em tudo, é a aplicação pura do ideal de busca pelo prazer “hobbesiano”; o viés dessa cultura está justamente no ponto em que os bens do prazer humano são limitados e a busca indiscriminada por todos ao mesmo tempo leva a sociedade ao caos e a corrupção. Suas ferramentas são a intimidação direta ou indireta, o tráfico de influências e as trocas de favores que se valem de “mercadorias políticas” para obtenção de vantagens pessoais. É óbvio que todas essas condutas são nocivas e paradoxais para com a atividade política, pois as instituições que tem como missão mediar as relações sociais, criando, aperfeiçoando e aplicando as regras de convivência não podem ser refém de ideais mesquinhos e individualistas, sob pena de tornarem-se, até, despóticas.

A promiscuidade entre o público e o privado, extraído de forma sórdida de algum “artigo” da “Lei de Gerson”, foi urdida por mais de 20 anos pelos atuais protagonistas dos escândalos que se sobrepõem a cada dia e representa o “tabefe” desferido pelo governo.

E o povo?

Ah, o povo. Esse tem que se submeter ao julgamento do “supremo tribunal individual” e buscar uma “cura”, mas dispensando os "curandeiros" por favor, para amenizar o rubor deixado em sua face por esta bofetada coletiva.